Portugal Is Beating the Headwinds: Competitiveness is being restored within the constraints of the monetary union
Na sequência de uma semana terrível para Portugal, Carlos Moedas decidiu escrever um artigo no Wall Street intitulado 'Portugal is beating the headwinds' para repôr a Verdade sobre o nosso país. O artigo, um panegírico à acção do actual governo, falha completamente o alvo. O problema português não é não se conhecer e não se dar devido valor aos esforços deste governo em cumprir o seu programa de ajustamento ('it is difficult to get across the relevant information on what we have been doing to generate growth, and to highlight the indicators that suggest that imbalances are being corrected'). O problema é o próprio programa de ajustamento ser errado e estar a lançar Portugal para uma profunda recessão, o que torna os esforços do governo em cumprir o que lhe foi imposto absolutamente irrelevantes. Ora este pequeno pormenor - Portugal não tem futuro enquanto a Europa não mudar radicalmente de política e empreeender uma radical reforma institucional - não é abordado por Moedas.
Moedas acha que o bom comportamento das exportações está ligado às políticas deste governo (strong performance of exports, which grew by 7.3% in 2011. In a context of dampened global demand, such growth suggests that Portugal is gaining market share(...)Thus, Portugal is showing a capacity to restore competitiveness within the constraints of the monetary union). Porquê? Tirando Moedas, ninguém sabe. O facto deste bom comportamento das exportações vir de trás, do tal tempo onde Portugal ainda não era competitivo, e não ter qualquer relação com as políticas deste governo e com a 'transformação estrutural da economia' desejada por Gaspar é um dado que não perturba as certezas de Moedas.
Sobre a austeridade, Moedas reconhece que esta tem efeitos recessivos, mas que, como 70% do ajustmento vem de cortes na despesa, Portugal está a reduzir o tamanho do Estado e, portanto, a 'minimizar os desincentivos potenciais para a actividade económica'. Aqui Moedas limita-se a reafirmar - o que é diferente de defender - um dos pressupostos axiomáticos do programa de ajustamento: a recessão pode parecer negativa, mas ela lança as bases do crescimento porque reduz o peso do Estado na economia. Esta afirmação, que é puramente ideológica, tem sido desmentida pela realidade: a austeridade é recessiva e nada mais do que isso - não lança 'sementes para o crescimento', não contribui para a confiança do sector privado e não contribui para a confiança dos mercados. Na realidade paralela onde vive Moedas, a austeridade não só está a funcionar (por definição), como nem se tem reflectido nas receitas fiscais (despite unfavorable economic conditions, tax revenues increased by 4.6% in 2011, and tax recovery was 12% above target). Ora isto é falso: o IVA ficou aquém do esperado, por causa da queda histórica do consumo, e as contribuições, por causa do aumento do desemprego, também. Pormenores, dirá Moedas.
Sobre as reformas estruturais, Moedas fala do sucesso da privatização da EDP, da nova lei da concorrência, da transposição da Directiva dos Serviços, daquilo que que chama 'reestruturação das empresas públicas' e do acordo de concertação social. Tudo isto, diz Moedas, apesar das aparências em contrário, é a demonstração que o programa está a ser um sucesso. Estamos restaurar a nossa competitividade e o crescimento irá regressar. E se alguém, incluindo a realidade, ousar discordar, Moedas escreverá outro artigo para repôr a Verdade sobre o nosso país.