AT/DT
Precisamos de grande momentos para as grandes mudanças. Resoluções sem a motivação certa, dão boas histórias e nada mais. Por isso, de tudo o que a troika poderia trazer de bom ao país, creio que a única coisa que desejaria, se fosse um pouco mais inocente, um pouco mais crédulo, seria um modo distinto de agir politicamente. Aproveitar para corrigir velhos maneirismos, maus hábitos. Aproveitar para mudar, ainda que forçados.
Claro que nada disto acontecerá, mas não ajuda quando somos nós próprios, nos cafés como na imprensa, que perpetuamos os piores vícios. Por exemplo, suspender a capacidade crítica, desculpar os nossos políticos, com o argumento de que todos os que vieram antes fizeram igual ou pior. Passos é mau, mas também Sócrates era mau ou pior. Cavaco uma desgraça, mas também Sampaio e Soares. E se a coisa estiver mesmo dramática ainda há Salazar, D. Pedro IV e D. Sebastião.
Com este argumento, como com outros, consegue-se manter o debate político estéril. Não se discute nada senão nomes, traumas e preconceitos. E, claro, o mais importante, a crítica dos políticos presentes e actuais, como se fossem os únicos que importassem - porque são - fica sempre por fazer. E o país anima-se. Pois já se sabe: se não há pão, convém compensar com o circo.