Manifesto Encalhado IV
Dependência energética baixa 12% em cinco anos
Ana Maria Gonçalves in Económico
"Desde 2005, ano que marca o reforço das políticas de incentivo às energias renováveis, este indicador passou de cerca de 87,2% para 76,8%, em 2010(...). De acordo com fontes do sector, contactadas pelo Diário Económico, a geração em regime especial, na qual se inclui as renováveis e a cogeração (produção combinada de electricidade e gás natural, usada sobretudo em processos industriais), representou uma poupança de combustíveis de 550 milhões de euros, só em 2010. Ou seja 10% do total da factura energética nacional registada neste neste ano, a qual se cifrou em 5.561 milhões de euros."
Aquela pieguice das renováveis permitiu, entre outras coisas, que Portugal reduzisse a sua dependência energética de uma forma impensável há apenas dez anos atrás, contribuindo para uma forte redução da nossa factura de importações energéticas.
Para além da poupança obtida, a valorização dos recursos endógenos permitiu a criação de um cluster industrial que emprega milhares de pessoas qualificadas em Viana do Castelo e que fabrica em Portugal (para consumo interno e para exportação) uma das mais avançadas turbinas eólicas do Mundo (com 95% de incorporação nacional) e, embora em menor escala, promoveu a produção de equipamentos (fotovoltaicos, de concentração e térmicos) para o aproveitamento da energia solar.
Mas também ajudou a indústria convencional (e.g. co-geração na indústria do papel), permitiu a resolução de problemas ambientais (e.g. incineração dos resíduos sólidos urbanos produz energia e diminui drasticamente a necessidade de espaço em aterro para a deposição final dos resíduos) e ajudou Portugal a cumprir compromissos internacionais no âmbito do combate às alterações climáticas.
Quem segue a área da energia e persiste em ignorar os efeitos positivos do investimento efectuado em Portugal nas energias renováveis ao nível da geração de riqueza, da criação de emprego qualificado, da investigação académica e inovação industrial, da transferência de tecnologia e de know-how, do crescimento de exportações e redução de importações, da redução da dependência energética and so on... ou está morto, ou é distraído, ou sofre daquela terrível condição, que diz que dá comichão, de acute intellectual dishonesty.
Para quem sonha com um futuro “verde” alicerçado num horizonte de silenciosas e mui seguras centrais nucleares (100% fabriqué en France) daquelas que nunca derrapam nos custos e criam imenso emprego, que funcionam sempre comme il faut, que se desmatelam sozinhas e cujos resíduos são óptimo ingrediente para temperar os raviolis de tório, só temos pena que falhe no fact check com a realidade.