Precisamos urgentemente de uma oposição feroz
Se os partidos não servem para simplificar a realidade em que vivemos não sei para que servem. É uma tarefa difícil, bem sei, mas alguém tem que a fazer e não podem restar dúvidas que, à cabeça, essa tarefa cabe aos partidos.
Numa sociedade complexa, a missão primeira dos partidos tem que ser filtrar os assuntos com relevância política, expor os pontos relevantes, simplificar as questões, apontar caminhos.
O facto de um ou mais partidos estarem no poder ou na oposição não muda isto. No Governo terão ferramentas distintas para o fazer e a capacidade de produzir distintos efeitos, mas também na Oposição há um papel a desempenhar, porventura mais importante, porque contra o poder; porque como críticos do poder, seja de modo construtivo ou destrutivo.
Dito isto, é lamentável o modo como o Partido Socialista tem feito oposição no caso Parque Escolar. Do que se trata é de uma matéria política central. Central porque diz respeito ao dinheiro dos contribuintes, a uma tarefa política de elementar importância - a Escola Pública - e ao modo como lidamos com a sua execução.
Face a um embuste e a um auto-de-fé que o Governo pretende montar contra a Parque Escolar e, assim, contra o anterior Governo e contra a Escola Pública, o Partido Socialista mais não faz do que pedir uma audição parlamentar da Administração da Parque Escolar. É pouco, muito pouco. Se isto bastar como oposição estamos desgraçados.
O que está em causa não é apenas denunciar uma mentira que tem como consequências branquear o trabalho que foi feito em prol da Educação, o que significa dizer, em prol de pais, alunos, professores e funcionários. Em prol da única hipótese de longo prazo que Portugal tem para ser um sítio melhor.
Em face disto o que o PS devia estar neste momento a fazer era contrapor até a exaustão, a plenos pulmões, a verdade. Devia expor os enganos, clarificar o conteúdo dos relatórios, defender o trabalho feito e explicar porque é fundamental renovar o parque escolar português. Não pode deixar que o Governo se escude na complexidade dos problemas. Porque é isso que temos aqui: mancha-se o nome de uma instituição, uma política, um Governo, com umas quantas mentiras e espera-se que ninguém vá tentar perceber por si próprio o que aconteceu. Porque a maioria das pessoas não vai. Por vezes, nem mesmo os media. Não é táctica nova neste Governo.
O PS tinha aqui uma boa oportunidade para não se remeter apenas a uma oposição de denúncia mas de acareação da verdade com a mentira, que seria também uma defesa da Educação Pública face a um Governo que não tem uma ideia que se veja para a Educação.
E se não é a oposição a fazer este trabalho de cão de guarda, então quem é? E mais, com estes tempos e com este Governo, o cão de guarda não pode ser manso e ficar feliz com audições parlamentares (por mais importantes que sejam): tem que fincar dentes e não largar, até que as pessoas percebam os factos, fiquem esclarecidas e decidam em consciência sobre o bem e o mal das decisões tomadas e das políticas seguidas.