Da arrogância bonapartista
No mesmo texto José Manuel Fernandes afirma ainda: “sem surpresa, muitas obras foram feitas sem integrar a experiência e as reais necessidades locais, antes promovendo a megalomania das direcções regionais da Educação, porventura as mais partidarizadas estruturas do ministério”, porque “muitos em Portugal não sabem imaginar o Estado senão através de estruturas centralizadas, bonarpartistas, levando a cabo o trabalho "iluminista" de resgatar o país do breu da ignorância (...)”.
O relatório da Inspecção Geral de Finanças não se debruça sobre esta questão que tanto escandaliza José Manuel Fernandes - que, imagino, lá terá as suas fontes privilegiadas. A minha fonte, que é também a do relatório da IGF, é o relatório publicado pela OCDE sobre o Programa de Modernização da Escolas do Ensino Secundário. O que diz a OCDE - cujo trabalho de campo deve ter sido um pouco mais minucioso e as conclusões razoavelmente menos pavlovianas do que as de José Manuel Fernandes - sobre esta questão? Diz duas coisas muito interessantes, que são precisamente o oposto do que é por si defendido.
Primeiro: a "Parque Escolar was established as an agency to implement an ambitious school building modernisation programme efficiently and in a short period. In many OECD member countries, government agencies have been established to bypass traditional ministries that struggle with all sorts of cumbersome regulations and bureaucratic procedures. Parque Escolar is no exception. And as elsewhere Parque Escolar has preferred expert advice from people outside the ministry of education: university professors, library experts, ICT experts, etc." (parágrafo 161, pág.47). Ou seja, a empresa Parque Escolar preferia sistematicamente ouvir peritos vários que não trabalhassem no Ministério da Educação.
Segundo, sobre o envolvimento da comunidade escolar: “[a]ll local stakeholders praised the way and the intensity with which Parque Escolar interacted with them through information sessions and consultation meetings before and during the building process. Meetings were held with parents, teachers, students, the school board and the non teaching staff during which architects, engineers and Parque Escolar staff presented the plans and asked for input. Local stakeholders were pleased with the output of these meetings, and felt they had an impact on the plans and the process”. Para arrogância bonapartista, não está mal.
José Manuel Fernandes não tem que ler estes relatórios todos. Mas se quer lançar ódio sobre tudo o que é intervenção pública, podia informar-se um pouco. Dá trabalho, eu sei.