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jugular

do ricochete

sempre que escrevo neste blogue sobre algo relacionado com judeus ou israel constato que as reacções, quer nas caixas de comentários quer noutros blogues, são de dois tipos: ou de ódio mais ou menos mitigado (trazendo geralmente à colação a questão palestiniana, mas também a ideia de uma conspiração judaica global, incluindo a tese de que 'os judeus' estiveram por trás por exemplo do 11 de setembro) ou de defesa histérica, do género 'nada se pode dizer sobre os judeus, nada se compara ao sofrimento dos judeus, os judeus não podem ser comparados com ninguém', tornando blasfémia e sacrilégio sequer aventar que aquilo que sucedeu na história da europa com os judeus é apenas (apenas, sim) uma expressão particularmente virulenta do preconceito e da discriminação.

 

ora eu, que não quero distinguir entre um judeu e um não judeu mais do que quero distinguir entre uma mulher e um homem, um homossexual e um heterossexual, um negro e um branco, e por aí fora -- porque considero que a ideia de tratar pessoas como 'grupo' a partir de características étnicas, de orientação sexual, de género, etc, mesmo que por motivos estratégico-políticos, naquilo a que se costuma chamar 'essencialismo estratégico', é sempre uma armadilha que reforça o preconceito -- fico sempre estupefacta ante a forma como se aceita sem discussão a ideia de que ser judeu é qualquer coisa de único, para o bem e para o mal, numa incorporação perversa, horrífica, da perseguição como identidade.

 

isto dito, é claro que também eu, perante um ataque homicida a uma escola judaica, penso de imediato num ataque motivado pelo ódio aos judeus, mesmo se não tenho logo elementos para provar que é disso que se trata e se poderá tratar, como ferreira fernandes tão bem (como sempre) escreve, 'de alguém que gosta de matar pessoas'. porque é disso, não é?, que se trata: pessoas. e crianças, ainda por cima.

 

crianças, pessoas: é nisto que temos de pensar, sempre. e de como nada nos deve distrair disso. mas, agora mesmo, na sic notícias, acabo de ouvir esther mucznik, da comunidade israelita de lisboa, dizer, a propósito do ocorrido em toulouse, que 'as pessoas falam de xenofobia e racismo, mas não é de nada disso que se trata, mas de anti-semitismo'. ser anti-judeus como uma categoria à parte de todos os outros anti: uma categoria pior, portanto.

 

como o discurso do ministro dos negócios estrangeiros francês no enterro das vítimas de toulouse em jerusalém, na sua certificação de que 'a morte de judeus abala toda a frança', a asserção de mucznik contém e acicata a virulência daquilo que visa combater. e, no vazio que cria à sua volta, nas trincheiras que impõe, soletra coisas terríveis. a começar pela de que ser anti outros 'grupos' não é talvez tão grave e pode ser até aceitável, compreensível, necessário. e, como não, ao contrário.

 

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