a greve e eu
pensei um bocado sobre se fazia greve hoje ou não. decidi não fazer.
e decidi porque há muito sinto que a ideia de greve geral, entendida como um combate contra medidas de um governo, está desactualizada e condenada a ser muito parcial, incidindo sobretudo no sector público. há excepções, claro: acabo de ler (no fb da inês meneses) sobre trabalhadores de um call center da edp, na beira, que aderiram, o que é notável. mas parece-me claro que uma forma de luta que se mantém imutável desde o século xix, e que permitiu, à custa de um imenso sofrimento e de enorme coragem, num tempo em que fazer greve podia ser a diferença entre comer e passar fome, entre a vida e a morte, obter grande parte dos direitos que hoje temos -- a começar pelo horário de oito horas diárias -- já não funciona.
durante muito tempo, a batalha dos trabalhadores em greve era contra os patrões; hoje é geralmente contra as leis e contra os governos. faz-me sentido fazer greve se quiser fazer sentir à minha empresa que está a agir mal; não se o que quero é protestar contra um governo e as suas medidas.
temos de puxar pela cabeça e encontrar outras formas porque é isso, eficácia, o que queremos, não é? e duas greves gerais em 3 meses não parece exactamente a melhor forma nem de valorizar a greve geral nem de a tornar eficaz.