Como, não?
O Luís Miguel Rainha já disse de sua justiça ali abaixo. Gostava de comentar umas coisinhas sobre o que diz um ilustre atlante acerca do regicídio (actualizado aqui). Não sabia que tinha sido Portugal quem matara o seu próprio líder. Julgava eu, na minha ingenuidade natural, que havia sido obra de um par de fanáticos impregnados de ideologia republicana que tendia a atribuir todas as maleitas do país à monarquia. Agora vejo que, afinal, foi "Portugal". Ora, se foi o país a matar o seu próprio rei, é porque o rei estava a mais. Talvez fosse bom relembrar ou ensinar a Bernardo Pires de Lima os princípios do pactum subjectionis. Pobre D. Carlos, merecia defensores menos trapalhões. Mas o malvado "Portugal" voltou a atacar, 72 anos depois, desta vez em Camarate. Malvado e burro, porque teve mais de 3 décadas de Salazar e não lhe deu a sanha homicida durante esse tempo. Mas isto sou só eu a falar.
Confesso que fiquei horrorizado com tamanha falta de brio patriótico. Depois percebi (como explico abaixo) que era uma metáfora, e que o infame acto teve, na verdade, ligações ao terrorismo internacional, não-cristão, não-europeu e, sobretudo, não-português. Ufa! Já agora, acrescento que só falta dizerem (ou se calhar já alguém disse) que a morte de D. Carlos precipitou a ruína nacional e a de Sá Carneiro, completou-a. Talvez pelo meio fiquem os tais 48 anos de esplendor nacional. Aqueles que a gente sabe. Há gatos escondidos com rabo de fora. Enfim. Nunca me esqueço de um amigo meu que me disse uma vez que o assassinato de Viriato condenou este país à miséria. Ou seja, Portugal já estava condenado antes de existir. Confesso que gostei particulamente da referência à "via paquistanesa revolucionária". Fico sempre embevecido e orgulhoso de quem demonstra conhecimento e bom-senso sobre aquilo que escreve. Bernardo Pires de Lima não foi certamente buscar este acutilante libelo anti-paquistanês a um qualquer cabeçalho do Correio de Manhã ou a uma abertura do noticiário da TVI. É opinião fundada, ponderada e fundamentada. Não me digam que não, atlantes. Porque o título da revista/blog não desculpará ignorâncias sobre outros oceanos, certo? Fiquei portanto a saber que atentados (bem-sucedidos ou não) à vida de chefes políticos, reis, presidentes, papas, whatever, foi coisa inventada pelos bárbaros paquistaneses, esses monhés brutos, porcos, fundamentalistas, islamistas, jihadistas. A agora mui sabiamente baptizada de "via paquistanesa". Pois nunca cá houve disso, na nossa bela e querida Europa civilizada, harmoniosa, tolerante de 2000 anos de sã convivência entre credos e raças, entre grupos sociais, entre governantes e governados. Nem nos States. John Booth era um imigrante de Lahore, Lee Oswald era um parente distante de Ali Jinnah. No panorama nacional, e retomando o que interessa, desconfio que tanto o Costa como o Buíça eram descendentes de um qualquer soldado português que tivesse andado pelo Norte da Índia. Não? Como, não?