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seria talvez mais avisado não dizer uma palavra sobre isto, até porque não queria mesmo ferir susceptibilidades (sabendo que ao falar isso é inevitável). mas confesso que ontem, quando cheguei finalmente, após meia hora ou mais à chuva, à sala do palácio galveias onde estava o corpo do miguel e percebi que antes de cumprimentar a família, que era o motivo que ali me levava, teria de cumprimentar também o comité do be fiquei pasmada. e escandalizada.
não sei se foi um desejo do miguel, e presumo que sim. mas, mesmo sabendo que já não o posso discutir com ele, não posso deixar de dizer que presumir que cada um dos que ali se deslocou em penhor de um sentimento para com ele (porque era da morte dele que se tratava) e para com os que dele ficam estava ali também para homenagear o seu partido é algo que não consigo de todo perceber.
colocar o partido ao lado da família é-me algo de totalmente estranho. mas se percebo que alguém o faça para si, tenho total impossibilidade de entender que o imponha aos outros.
e, por mais que seja desagradável colocar esta questão neste momento, permite que se pense a comoção e a celebração associadas à morte do miguel, incluindo a cerimónia do são luiz e a transmissão televisiva da mesma em directo da rtpinfo, como uma forma de entronização de um partido e um tempo de antena.
a mistura do pessoal e do político existia no miguel, claro. como, de algum modo, em todos nós. mas isto, não posso deixar de o dizer, caiu-me muito mal.