o filme ao contrário
Em conversa que tive há já quase uma década com o então diretor do centro de formação de jornalistas, perguntei-lhe que regiões da Ásia eram suscetíveis de suscitar maior interesse e motivação por parte dos profissionais, e que tipo de ações de formação, que o instituto universitário a que eu estava então ligado podia oferecer, seriam mais úteis para a classe. A resposta dele foi lapidar: aqueles países que fossem notícia nos meses seguintes; "se para a semana houver uma crise nuclear envolvendo a Coreia do Norte, teriam todo o interesse em fazer já hoje um curso sobre história, cultura e atualidade dessa região". Houve, inevitavelmente, uma gargalhada na sala. Antecipar a realidade, conhecer o futuro, vislumbrar o porvir é, de facto, uma velha aspiração, em todos os campos da vivência humana, da existência pessoal às opções estratégicas das sociedades.
Como as artes de adivinhação ou os palpites não possuem, que eu saiba, validade científica, gostava, portanto, de saber em que se baseiam estas alterações; que estudos, que análises, que prioridades levaram a considerar a metalurgia ou a metalomecânica, a caça e as pescas como áreas prioritárias na formação profissional dos jovens, em detrimento da informática, da multimédia ou do marketing. São setores em expansão? Áreas que necessitarão de mão-de-obra nas próximas décadas? Setores estratégicos da economia nacional? Quem acredita? Eu, não. Sei, sim, que foram importantes no passado. Alguém, concluo, está literalmente a ver o filme ao contrário. Ou então aposta no regresso de Portugal à década de 1950.