Ainda os Balcãs
Para os garbosos defensores da recente bambochata kosovar, e para dar pleno cumprimento às legítimas aspirações de independência de todos os povos balcânicos (ou os kosovares serão mais do que os outros?), venho desde já propôr a Lahorização dos Balcãs. Eu explico: em 1940, a All India Muslim League reclamou pela primeira vez o direito à existência de um estado separado muçulmano no que era ainda a Índia Britânica. Foi em Lahore, no que ficou conhecida como a Lahore (ou Pakistan) Resolution. O princípio era simples (e quem já viu o Gandhi de Attenborough reconhecerá a expressão): onde houver maioria muçulmana, aí será o Paquistão. Por acaso, esta operação simples dividiu a Índia em 3 pedaços, Podia ter dividido em muitos mais. Os Balcãs no subcontinente indiano, que giro. Os resultados foram dolorosos e as dores são ainda bem visíveis, 50 anos passados.
Agora que as potências ocidentais abriram a Caixa de Pandora nos Balcãs, com o reconhecimento de uma independência unilateral proclamada por uma maioria étnico-religiosa espirra-canivetes de uma província de um estado soberano, falta o resto. Ou só os albaneses do Kosovo é que têm direito? Peguemos nos Balcãs e toca a Lahorizar: onde houver uma maioria de albaneses, albanize-se; onde houver uma maioria de sérvios, zás!, um estado; onde houver uma maioria de bósnios, ou croatas, ou macedónios, ou montenegrinos, ou húngaros, ou romenos, ou gregos, ou turcos, ou eslovenos, criem-se estados independentes. Pequenos ou grandes, não importa. Tudo democraticamente escolhido pela força da maioria. Não é isto a autodeterminação dos povos? Depois, cada um quererá juntar-se à mãe-pátria onde estão os compatriotas, para dar origem a uma Grande Albânia, a uma Grande Sérvia, a uma Grande Croácia, etc. Infelizmente ficarão todas sobrepostas umas às outras, o que dará um lindo mosaico, de suaves cores e variadas tonalidades. Nessa altura, já os restantes europeus terão todos emigrado para a Austrália ou para Marte e os americanos terão regressado ao seu isolacionismo, deixando os bravos democratas a matar-se uns aos outros. No fim, talvez, contarão os cadáveres e recolherão, se os houver, os despojos. Ora digam lá que não são radiosos, estes amanhãs que cantam?