VD e saúde (II)
Sendo certo que os profissionais de saúde ocupam uma posição única no despiste de casos de VD, não é menos verdade que uma maior eficácia depende da integração de informação específica sobre o assunto na formação dos técnicos de saúde.
Vários estudos mostram que as vítimas de violência doméstica procuram ajuda em diferentes áreas médicas e que a percentagem de mulheres que apresenta sintomas crónicos é muito maior do que as atendidas em situações de urgência. Este aspecto é importante e é um indicador indirecto do deficiente diagnóstico.
O estabelecimento de uma ligação entre sintomas e sinais e violência é muita vezes dificultado pela procura de relações causais próximas no tempo e de uma perspectiva causa-efeito "monocausal". A verdade é que as consequências da violência física e sexual, sobretudo em jovens, se fazem sentir, ou continuam a fazer-se sentir, na vida adulta, muitos anos depois do episódio agudo. Para além disso essas consequências variam de uma mulher para outra, não sendo possível a identificação de um síndrome clínico. Estas especificidades determinam uma atenção redobrada, como dizia um professor que tive na faculdade, “só diagnosticamos o que nos lembramos”.
O impacto inicial, em contexto clínico, da temática da VD junto de uma mulher que procura os serviços e que não fala espontaneamente do assunto requer uma técnica específica de colheita de dados, uma adequação do discurso e um conhecimento efectivo das estruturas envolvidas – tribunais e respectiva legislação, policia, serviço social, eventuais consultas específicas direccionadas para o tema e ONG’s. Terá de haver, também, da parte da instituição um conjunto elementar de princípios orientadores de modo a homogeneizar o funcionamento e a dar suporte institucional aos profissionais. Falamos de princípios orientadores básicos mas imprescindíveis, sem os quais pode ser arriscado e contraproducente abordar o tema, desde logo porque existem questões éticas e deontológicas envolvidas.
(cont.)