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Assim não vamos lá

Ainda pensei que as coisas melhorassem à esquerda com o regresso do PS à oposição. É certo que a estratégia de Seguro não ajuda. Mas o que dizer desta última entrevista de Louçã ao Expresso? Clara Ferreira Alves bem insiste: não te enganes de adversário, concentra-te na direita. Não adianta. Segundo Louçã, «O PS é um partido corrompido», uma conclusão que retira a partir de uma amostra de três casos num universo de 100 mil militantes. A conversa é sempre a mesma. «Há no PS uma nova e uma velha geração com visão democrática», mas infelizmente a geração que está no poder em cada momento nunca tem essa «visão democrática». Mário Soares é hoje uma referência, mas já em 2006 Soares tinha essa «visão democrática» e Louçã preferiu facilitar a vida a Cavaco. A social-democracia do pós-guerra é hoje elogiada pelo que fez na Saúde e na Educação, mas no seu tempo Louçã viu-a como um terrível instrumento do Estado capitalista. A América Latina foi fonte de inspiração, mas agora que o PT concluiu que «é  impossível fazer a mudança sem o centro democrático», Louçã vira-se para o Syriza.

Louçã está impressionado com o resultado da esquerda radical grega: «um crescimento desta ordem nunca aconteceu». Nunca? Talvez para Louçã o interesse pela República de Weimar desvaneça logo no momento em que desaparece Rosa Luxemburgo, mas para alguém que, como o próprio lembra, «passou a professor catedrático» e assinou livros que «até na China foram publicados», exige-se mais consideração pela história eleitoral dos anos 30. Clara Ferreira Alves ainda o alerta para os riscos do radicalismo à Syriza: «muita gente associa isso a um programa bolchevique». Louçã responde tranquilamente que «Para umas será, para outras não». Pelos vistos continua sem saber como lidar com a classe média, sem a qual a esquerda nunca fará maiorias. Esse eleitorado poderá apoiar políticas progressistas razoáveis, mas o seu maior receio é regressar definitivamente ao estatuto social de pobre. Perante o falhanço da Nova Democracia e o colapso do PASOK, infelizmente mais depressa aprovará uma ditadura de coronéis ou a extrema-direita do que o programa do Syriza.

Entusiasmado com «sondagens que lhe dão 9%» e com os aplausos que ouviu recentemente na Praça Sintagma, Louçã - que há um ano anunciara a renovação do bloco - aproveita também a entrevista para lançar um novo tabu, uma prática muito frequente entre catedráticos de economia: «O mundo está interessante e vou continuar nele, mas não vou falar do meu afastamento». Louçã aposta tudo «na massa de diversidades que é o PS» e quer «dialogar com essa gente». Essa sensibilidade mais à esquerda existe no PS. Mas não me parece que tenha muito mais estima pela estratégia de Louçã do que pela de Seguro, como aliás se depreende deste post do João Galamba. Além disso, o próprio Bloco, embora não seja realmente «uma massa», tem as suas «diversidades». E também daí – dessa diversidade - podem vir surpresas desagradáveis para Louçã. O líder do Bloco diz ainda na entrevista que é «contra a política como mitologia da impossibilidade: como é tudo muito difícil prefiro pôr os chinelos e ficar em casa». A verdade é que com Louçã é mesmo tudo muito difícil. Deixe-se pois de preconceitos: desta vez, experimente pôr os chinelos e ficar em casa.

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