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Retrato de um sempre-em-pé

A extensa biografia de Miguel Relvas, hoje publicada na Visão, é um trabalho notável de Miguel Carvalho. Nele começamos por saber que Relvas nasceu no dia 5 de Setembro de 1961 em Lisboa, embora os pais se tivessem conhecido em Portalegre. O pai, João Relvas, é hoje lembrado pela revolução cultural que promoveu no emblemático café Alentejano: «renovou a frasqueira e o serviço de pastelaria e ofereceu música de dança às quartas-feiras». Estas quartas-feiras de chás dançantes do Alentejano representaram «uma sacudidela nos costumes» de Portalegre, testemunhada por figuras como José Régio, Mourão-Ferreira e Branca Cassola, com quem João (Relvas) viria a casar.

Aos 13 anos Miguel Relvas foi inscrito no Colégio Nuno Álvares em Tomar. «O estabelecimento, um dos mais prestigiados do país, albergava malta do Minho a Timor». Por este Eton do Ribatejo terão passado, para além do jovem Relvas, o actual chefe da casa civil de José Eduardo dos Santos e o historiador Vasco Pulido Valente. No colégio, Relvas «andava sempre de volta dos professores, insinuava-se», o que revela bem que a sua vida foi mesmo «norteada pela permanente procura do conhecimento». Do conhecimento e dos conhecimentos. De acordo com Miguel Carvalho, Relvas manda «postais de boas festas e cartões de aniversário aos militantes. Telefona a confortar os que estão doentes, foram internados ou perderam familiares». A biografia revela-nos também um «grande facilitador» - aquilo a que em ciência política, domínio que Relvas conhece bem, se chama um gate-keeper. A história de Fernando Patrocínio é uma entre muitas. Segundo vários testemunhos, Fernando Patrocínio «representa para Tomar o que Sócrates significou para Atenas». Ou seja, é o sábio da aldeia. Patrocínio quis patrocinar a causa dos trabalhadores da fábrica Mendes Godinho: «Fui ter com ele ao Parlamento e ele abriu-me as portas para o Mira Amaral e o Laborinho Lúcio. Encaminhava, pronto». Como diz João Moura, antigo líder da JSD/Santarém, Relvas «é o verdadeiro doutor honoris causa da política».

Relvas foi sempre «dos últimos a deitar-se e dos primeiros a acordar». Talvez por isso, na sua já longa carreira política, até chegar a ministro-adjunto, só por duas vezes se viu em apuros. A primeira foi em meados dos anos 90, quando presidia à Comissão Parlamentar de Juventude. Embora alguns colegas do PSD assegurem à Visão que «os seus discursos tinham ghost-writers de peso», a verdade é que o discurso proferido pelo deputado Miguel Relvas no estabelecimento prisional de Coimbra não começava da forma mais adequada: «Quero agradecer esta oportunidade: é sempre bom conhecer os presos no seu habitat natural». Seguiram-se anos de justificado silêncio parlamentar. A segunda vez foi pouco tempo depois, no caso das «viagens fantasma». Para «embolsar o dinheiro das deslocações entre Lisboa e o seu círculo eleitoral», Relvas terá dado aos serviços da Assembleia da República a morada «de uma vendedora de fruta no mercado». A vendedora, antiga colega de escola, naturalmente não gostou, mas Relvas nunca se atrapalha: «Desculpa, não era para tua casa, era para a senhora da frente». Assunto encerrado. António Tavares, antigo secretário-geral da JSD, conhece-o bem: «É persistente e resistente. Um sempre-em-pé».

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