Flexibilizar as metas
Se o défice deste ano ficasse em 5.5 e se se apontasse para 4.5 em 2013, Portugal teria necessidades adicionais de financiamento em torno dos 4000 milhões de euros (2.5% do PIB). Se é certo que os 78 mil milhões que estão previstos no memorando não seriam suficientes para financiar esses défices, não é correcto dizer que, por essa razão, não há dinheiro para financiar tal cedência ao 'regabofe'. É que, é bom não esquecer, Portugal continua a financiar-se nos mercados. Dizer que não há dinheiro equivale, portanto, a dizer que seria impossível, ou demasiado oneroso, financiar esses 4000 milhões de euros adicionais no mercado. Tendo em conta os montantes envolvidos, isto parece improvável. Os bancos portugueses, que têm financiado a dívida que continua a ser emitida, não teriam qualquer dificuldade em acomodar 4000 milhões de euros adicionais. Tendo em conta o custo a que os bancos se financiam junto do BCE, a compra de dívida é um negócio lucrativo e, pelo menos no curto prazo, sem risco para os bancos (e, já agora, sem quaisquer custos em termos de liquidez para o resto da economia). Para além de conseguir financiar esses 4000 milhões de dívida adicional, o Estado tem (ou devia ter) capacidade de influenciar o seu custo. Se o Estado pode dar ordens à Caixa para vender a Cimpor, não se percebe em que medida é que não pode dar ordens para comprar dívida pública a um determinado preço.
O governo pode não se bater por uma flexibilização das metas, só não pode é usar a desculpa de que não há dinheiro. A razão é outra: o Governo, irresponsavelmente, não quer.

