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Rui Tadeu, Import Export

Há dias em que Portugal me parece um caso perdido de infantilidade crónica, se é que tal mazela existe, oscilando entre deslumbramentos fugazes, birras, negação da realidade, "esquecimento" juvenil, mitomania e, sobretudo, irresponsabilidade, muita. Durante muito tempo, foi-nos inculcada a ideia de um dos graves problemas do país era que Portugal importava mais do que exportava; depois, disseram-nos que não, que numa Europa unida e num mundo globalizado, não valia a pena estar a apostar em setores não-competitivos, era melhor investir em "nichos" selecionados, serviços e turismo. Subitamente, a Europa unida quilhou-se e o mundo globalizado espirrou. Ah! o regresso da espírito merceeiro salazarista, do "vivemos acima das nossas possibilidades", ei-lo a todo o vapor. Cortes súbitos nos apoios sociais, salários, saúde, educação, serviço público, reformas e outras "gorduras" desnecessárias do "monstro" do Estado, cambada de madraços, país de cigarras, arbeit macht frei.

Surgiram então os Ruis Tadeus. Exportar, rapidamente e em força (Salazar não diria melhor), isso sim, é o que, afinal, dá de comer a um milhão de portugueses. É claro que quem conhece um pouco de história desconfia sempre destas receitas de pacotilha. Ninguém se lembra do que aconteceu à Roménia de Ceausescu e à sua política feroz de pagar a dívida externa a todo o custo, enfim, cala-te boca que esse era comunista e o comunismo morreu. Recentemente, os arautos PSDS (do "Partido Social Democrático Social" governativo, com o "social" duplo, enfático e prioritário, como todos sabemos) rejubilaram perante o alegado triunfo dos Ruis Tadeus, o aumento das exportações e diminuição das importações, espécie de malmequerzinho amarelo no meio do deserto lunar. Não? Sim, todos eles eufóricos e condescendentes em frente às câmaras, a apelar à nossa costelazinha salazarenta, "vendemos mais e compramos menos", oh mais uma vitória da paz, pão, povo e liberdade, todos sempre unidos a caminho da verdade.

Agora, afinal, percebe-se o logro (houve quem o tivesse denunciado de imediato), afinal "vender mais e comprar menos" não quer dizer coisa nenhuma. Interessa é vender o que se produz, não vender aquilo que tem que se importar e cuja patente não nos pertence. Ou seja, Portugal é um simples "país de montagem". Augusto Mateus, hoje no Negócios, diz que Portugal "é mais China do que pensamos". De facto. Mão-de-obra barata e precária, desinvestimento na educação, na massa crítica e na investigação, incentivo à fuga de cientistas, investigadores e técnicos. Vamos todos acabar a montar componentes de iphones patenteados lá fora, a troco de uma malga de arroz, mas a exportar muito, muito, muito. Até percebermos que os Ruis Tadeus, os tais do import-export, são também, e sobretudo, Kilas, aqueles que só bebem amêndoa amarga, são habilidosos e chulam quem trabalha.

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