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falando de impunidade

Passaram apenas 18 meses desde que PSD, PP, PCP, BE e PEV se uniram para chumbar o pacote de medidas acordado pelo Governo com o BCE e a UE para garantir que Portugal não seria o terceiro país do euro a recorrer a um resgate financeiro. O chumbo, era sabido, implicaria a demissão do Executivo socialista e, no clima de pressão dos mercados financeiros sobre as dívidas soberanas, o resgate.

Na Alemanha, Merkel deu largas à sua fúria num discurso no parlamento, criticando o chumbo do pacote que tinha, frisou, o apoio do BCE e da UE. Os mesmos BCE e UE aos quais o governo demissionário, perante o disparar dos juros, foi obrigado menos de um mês depois a pedir ajuda financeira de emergência.

 

Toda a gente está recordada destes factos; como toda a gente terá presente que o motivo invocado pela oposição para recusar as medidas e derrubar o Governo foi um alegado "excesso de austeridade sobre as pessoas". Afinal, tudo isto se passou apenas há ano e meio. E levou só um ano e meio para se tornar claro - para aqueles para quem não o foi logo - que não existia em nenhum dos partidos que chumbou o PECIV outro propósito que não o de derrubar o Governo, custasse o que custasse, e desencadear eleições. O PSD e o PP fizeram-no porque esperavam, como sucedeu, ter votos suficientes para governar. O PCP, o BE e o PEV fizeram-no porque tinham a esperança de roubar votos ao PS e porque sabem que quanto mais à direita for o Governo mais têm possibilidades de os angariar. Ninguém, nestas cinco agremiações políticas, perdeu um minuto a pensar nos terríveis custos, para o País, desse ato. Ninguém se ralou com o expectável reforço da austeridade de que a Grécia e a Irlanda eram quadro vivo; ninguém quis sequer saber do que mais um resgate significava para a UE e para o euro. Ninguém pensou em responsabilidade, em solidariedade, em nós - ninguém, a começar pelo locatário de Belém.

 

Portugal podia, mesmo com o PECIV aprovado, ter sido, mais tarde, forçado a pedir um resgate? Não sabemos. Não sabemos o que teria sucedido se em vez de um Cavaco tivéssemos um presidente e em vez de um Passos e um Portas, um Jerónimo e um Louçã, gente mais ralada com os portugueses do que com ganhos partidários. O que sabemos é o que sucedeu. Que, a três meses do fim do ano, não fazemos ideia de qual o défice com que aí vamos chegar, nem de como será possível atingir a meta para 2013; que Cavaco humilhou e desautorizou o primeiro-ministro, erigindo o Conselho de Estado em poder executivo; que temos um Governo zombie; que o clamor da rua sobe e que o discurso infeccioso contra "os políticos" e a democracia cresce.

 

Que no meio disto a ministra da Justiça comente buscas em casa de ex-governantes como "o fim da impunidade" é um paroxismo de ironia. Cuidado, muito cuidado com o que se deseja. A nossa história recente deveria ter-nos ensinado pelo menos isso.

 

(publicado hoje no dn)

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