uma modesta proposta
Não entendo bem toda esta agitação em torno da crise, dos desempregados e dos reformados. Penso que faltam ideias inovadoras e arrojadas que poderiam resolver vários dos (alegados) problemas de que toda a gente se queixa para aí. Não falo da ignorância dos nossos empresários, que é profunda e sem solução, ou da pieguice do povo em geral, que não sabe aproveitar as oportunidades que se colocam à sua frente. Nem sei bem de que se queixam. Há dias ouvi Bagão Félix na rádio a dizer, a propósito do acentuado desequilíbrio da Segurança Social nos últimos meses, que há "um lado positivo" nisso, que é o de significar que funciona e que, portanto, mais gente recebe apoio. Palavras desastrosas. Mais gente a receber significa mais encargos para o Estado, ou seja, continuaremos a fazer de mamã, obsessiva e omnipresente, a tanta gente improdutiva.
A solução não pode ser esta. Proponho um regresso ao espírito de Abril e que esses inúteis deixem definitivamente de constituir um peso para as forças produtivas e dinâmicas da sociedade portuguesa. A via é a da continuação do reequilíbrio da balança comercial, sabiamente reposto nos últimos meses. Mas há um risco: se importamos cada vez menos (e isso é uma coisa inédita e maravilhosa) e queremos exportar cada vez mais, chegará em breve o dia em que teremos para vender apenas aquilo que o país possui. Não venham os cínicos dizer que já vendemos os anéis todos. E que possui o país, e cada vez mais abundantemente? Uma praga de improdutivos, velhos e desempregados. Vendamo-los. Peguemos em contententores e enchamo-los de contingentes de reformados, devidamente frigorificados e acondicionados, rumo à Alemanha. Usemos a nossa indústria transformadora e façamos bratwurst, alheiras, hamburgers, belas chouriças. Dos desempregados jovens, filet mignon. Ao menos serviriam para alguma coisa, caramba. O nosso primeiro-ministro já sugeriu que emigrassem, mas emigrar é fugir sem pagar. Assim, vendidos aos quartos, ajudariam a nossa balança comercial. Aproveitemos bons exemplos que veem de longe, como a exportação de lombos de perca do Nilo desse modelo de desenvolvimento que é o Uganda. Não tenhamos medo de ser criativos e ousados. Que não nos falte o engenho e a arte. Voltemos ao espírito de Abril.
(Inspirado nisto; desculpem estragar o gozo aos leitores de clássicos, mas se calhar nem todos chegam lá: é uma piadinha a isto).