esperteza saloia
A primeira versão previa agravamentos para a Segurança Social, para os trabalhadores, e descida para as entidades patronais. Assim mesmo, de forma tão direta que toda a gente percebeu. O país protestou, o PS ameaçou com uma moção de censura. Agora, em vez do atalho simples, o governo deu uma voltinha ao quarteirão e fez um arabesco: a carga passa para o IRS, mas a TSU continua a descer para os empresários, como se, para um trabalhador, importasse grande coisa se o corte vem pela via do salário, pelo aumento das deduções para a Segurança Social ou pela retenção em sede de IRS. E para prevenir percalços, nada de discursos solenes antes de espetáculos musicais. Agora negoceia-se pela calada com os credores externos, obtém-se e divulga-se a aprovação destes, prepara-se o ramalhete todo e, por fim, apresenta-se ao país o facto consumado. Lá virá o mr. Valium falar, às 3 da tarde, na esperança que ninguém o oiça ou que adormeçam pelo meio. Amanhã haverá peixeirada no parlamento, mas o primeiro ministro levará maços de algodão para tapar os ouvidos e passará o tempo a olhar para o relógio, porque tem o vôo à espera da parte da tarde para deixar o país. As contas que tem a prestar são lá fora, cá dentro não é preciso, bastam os peões de brega. Um deles corroborou ontem esta ideia, a de que o governo está em contacto permanente com a troika. De facto, é isso que importa, porque com o eleitorado basta estar em contacto permanente de 4 em 4 anos, vendendo banha da cobra e pregando as maiores petas de que há memória. Entretanto, vem o fim de semana prolongado e pode ser que a coisa coza em lume brando, que chova ou que as pessoas não saibam fazer contas. Segunda feira já é dia 8 e aposto que alguém virá dizer que "Portugal não pode perder mais tempo a discutir". Genial.