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O eduquês, essa conspiração universal

Hoje o "Público" presta um mau serviço na peça sobre o TIMMS e o PIRLS. É um decalque do comunicado do Ministério da Educação e Ciência e, por isso, escolhe um título péssimo: "Maioria dos alunos do 4.º ano não vai além do nível intermédio".
Se a jornalista tivesse procurado dados em vez de seguir o comunicado oficial, perceberia que, em Matemática (de onde vem o gráfico abaixo, retirado da página 90 do TIMMS Matemática) e em Ciências, em apenas 6 países a maioria dos alunos (ou seja, mais de 50%) atinge um nível superior ao intermédio (= a 'elevado' ou 'avançado'). Esses 6 países estão identificados nas setas a vermelho. Em Portugal são 40% em Matemática (ver seta verde) e 35% em Ciências. Na leitura, são 12 os países que superam os 50% de alunos nos dois níveis superiores, limiar quase atingido por Portugal, onde 46% estão nesses níveis.
Ou seja, na grande maioria dos países, mais de metade dos alunos fica nos níveis mais "baixos". O título do "Público" podia bem ser este: "Maioria dos alunos de todo o mundo não vai além do nível intermédio". Talvez o eduquês seja mesmo uma conspiração universal.

O que é escusado é que o "Público" faça eco da agenda do Ministério da Educação e Ciência no sentido de desvalorizar o caminho percorrido desde 1995 (eu percebo por que o Ministério da Educação e Ciência o faça; alguém que andou a pregar o "desastre do ensino da matemática" tem dificuldade em aceitar os resultados; mas o jornalismo escusava de decalcar os comunicados oficiais de quem tem esta visão). Na verdade, a notícia do Público é menos contextualizadora do que o comunicado do MEC, onde pelo menos se diz que, em 1995, "o País participou nos 3.º, 4.º, 7.º e 8.º anos, e ficou sempre entre os 5 últimos colocados à exceção de ciências no 8.º ano, em que ficou entre os 9 últimos colocados". Ironicamente, a infografia que acompanha a peça - que reproduzo a seguir - compara os resultados de Portugal com os países do top 6 quando, em 1995, o país não apenas se comparava, como integrava grupo dos 5 últimos. Mudou o universo de comparação: querem um indicador mais poderoso de progresso do que este?

 

Infelizmente, não se lê em lado nenhum que, quando comparados os resultados de 1995 e 2011, Portugal é o país, de todos participantes, onde é maior a progressão dos resultados na Matemática. Nem que, quando comparados os resultados de 1995 e 2011, Portugal é o segundo país onde é maior a progressão dos resultados em Ciências (na Leitura não há comparação com estudos passados, porque foi a primeira vez que Portugal participou no PIRLS). Nem que, no universo dos países da União Europeia, Portugal é o 7.º melhor classificado em Matemática, 8.º em Leitura, e 12.º em Ciências (de país "pária" nos resultados em educação, o país encontra-se no mesmo grupo que a Inglaterra, a Dinamarca, da Alemanha, da Irlanda, etc). É assim que se justifica ou legitima o discurso que a "despesa pública não produz resultados na educação": não fazendo o trabalho de casa.

Também não se lê em lado nenhum que, apesar de os alunos portugueses terem níveis médios de recursos familiares inferiores aos países com quem compete, conseguem muitas vezes resultados melhores. E vejam como os recursos familiares contam (o gráfico reporta-se à Matemática):

 

Mas isto fica para outro post.

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