Eleitos para destruir
(a ideologia escondida, os ultra-liberais, e o maior engodo que o povo ainda não compreendeu)
Parabéns, PSD e CDS, conseguiram, em ano e meio, regressar aos valores do PIB per capita do vosso último Governo: Portugal empobrece para mínimos desde 2004 face à Europa
Há essencialmente duas teses para explicar os feitos deste Governo: a incompetência e a diligência
A tese da incompetência é simples de explicar e fácil de compreender: com todas as metas, a que o próprio Governo se propôs, completamente falhadas, só pode entendar-se tamanho descalabro explicado por igual incompetência. Nem herança, nem crise: incompetência mesmo.
O que temos é, ao invés, um Governo diligente, determinado em empobrecer o país como ideologia de Estado, para que esse mesmo Estado se possa dissolver e o que restar, no fim, seja tolerável, como o óleo de fígado de bacalhau, inevitável. Este Governo quer os portugueses mais pobres, porque portugueses mais pobres, por estranho que pareça, precisarão menos do Estado, vivem com menos, são remediados. Esta é a ideologia das nossas governantes luminárias. Não precisamos de crescer para poder pagar níveis mais elevados de civilização, precisamos de níveis mais baixos de civilização para que o Estado nos assegure menos. Um dia, já nem o essencial nos será garantido. Simplesmente porque já teremos aceite que nada é essencial.
O melhor exemplo do gigantesco engodo em que permanentemente vivemos com este Governo é a recente narrativa da refundação do Estado e o inacreditável período de tempo em que se fará tal coisa: 3 meses. Deixem-me sublinhar este ponto, pelo modo como goza com qualquer pessoa com dois palmos de testa: 3 meses para refundar, reformar, repensar o Estado Social??? 3 meses para repensar um Estado Social constitucionalmente com 36 anos??? 3 meses para reformar um Estado que demorou 2 anos a constituir-se de raiz, desde o 25 de Abril de 1974 até Abril de 1976, para além das revisões constitucionais subsequentes e de todas as políticas públicas das últimas décadas??
Isto é risível, ridículo, mas é também a forma mais sonsa de mascarar o real problema: mesmo quem, em consciência e de boa-fé, entenda e pretenda repensar o Estado Social, com todas as opções de fundo, fundamentais para o nosso quotidiano, perderá qualquer vontade de o fazer, por perceber que tal é impossível em três meses. Nunca foi essa a ideia. Só um idiota pode acreditar que se pode reformar o Estado Social, de forma democrática e ponderada, em três meses.
O que temos aqui é um engodo, uma tramóia, um embuste: a refundação do Estado Social é apenas mais um episódio, o mais terrível e com consequências mais nefastas no médio e longo prazo, do ideário destruidor deste Governo. Nunca houve qualquer intenção de reformar o Estado: esse foi o nome que se inventou para cortar. Aliás, como pode perceber-se facilmente, para além da diligência na destruição do progresso social que fomos conseguindo e que foi possível a partir das decisões de 1974-76, só mesmo a tese da incompetência consegue explicar o remanescente da actividade do Governo, seja na produção legislativa, seja na condução dos dossiers nacionais mais importantes, seja, enfim, na confrangedora inação na arena europeia.
Não há qualquer reflexão de fundo sobre o Estado Social que este Governo tenha para apresentar, como não havia quando se apresentou a eleições, não há neste Governo qualquer vontade de convocar os portugueses, os eleitores, os contribuintes para uma discussão séria, longa e produtiva sobre que Estado queremos, que Estado podemos ter. Há apenas uma preocupação: empobrecer o país. O resto é gozar com os portugueses, à maneira sonsa.