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Um bom regresso

Por antecipação, regressei ontem a casa após uns dias de pausa, evitando os previsíveis congestionamentos de trânsito que se adivinham para hoje. Há anos que não me calhava na rifa esta viagem Algarve-Lisboa em fim do mês de Agosto. Depois da experiência, fiquei com pouca vontade de repeti-la. Há um não-sei-quê de arrepio na viagem de regresso de férias. Por acaso, sei bem o quê: os automobilistas portugueses, que habitualmente conduzem como imbecis, comportam-se como loucos assassinos nestas ocasiões. Ou como energúmenos ressabiados. Ou, ainda, como VIPs a caminho da sua finest hour. Sem ironias: não sei como é que morreram umas dezenas de pessoas na estrada, nesta quadra estival. Não fosse um qualquer deus luso que no Olimpo vai metendo a mão por baixo, e teríamos que fazer uma qualquer conta "ao quadrado".

As situações são variadas, mas posso condensá-las em três tipos principais: 1. o velho ressabiado: é aquele que circula a 90 ou a 100 e que só acelera quando está a ser ultrapassado, sobretudo se for numa subida e o "outro" vier carregado ou não possuir um bólide; muitas vezes, após infrutífera resistência à ultrapassagem, toma-se de calores, borra-se todo para nos fazer o mesmo e depois abranda; mensagem: "toma lá e aguenta, cabrão". 2. o raticida: é aquele que considera o automobilista seu vizinho um rato e que se acha, portanto, no direito e no dever de montar armadilhas, como seja fazer ultrapassagens seguidas de desvios bruscos para a direita, deixando-nos a poucos metros da sua traseira e obrigando-nos a travagens involuntárias, ou circular pela faixa da esquerda em ultrapassagem lentíssima, propositada, como fito de nos manter atrás daquele camião pesado; mensagem: "toma lá e vai-te foder, cabrão". 3. o meteorito: é aquele que esmifra a fundo todo o HP da sua viatura, não olhando a consumos, estado do pavimento, tráfego, condições atmosféricas ou respeito pelos outros, pequenos pormenores de gente tacanha e atrasada; portanto, circula na faixa da esquerda a 160 kms/h, de médios acesos e sinais de luz constantes, encostando-se à nossa traseira em ameaça velada; muitas vezes efectua a sua manobra preferida, o ziguezague, sem, evidentemente, o uso de pisca, esse instrumento para atrasados mentais; mensagem: "toma lá e sai-me da frente, cabrão". Há momentos em que desejo ardentemente ser polícia. Sinceramente. Sempre me acalmaria a sensação de impotência de ver tanta irresponsabilidade tantas vezes repetida. Talvez fosse melhor, de facto, desejar ser deputado ou ministro para legislar convenientemente sobre estas matérias. Se bem que eu saiba que não há lei que evite, não há polícia que chegue. Há, sim, aquela coisa chamada respeito e civismo, velhos chavões e lugares-comuns repetidos até à exaustão. Acredito que é na estrada que as pessoas revelam a sua natureza, ali, chapa com chapa, como gladiadores do Rollerball na arena, sem maneirismos ou etiquetas sociais, sorrisos e mesuras de circunstância. É ali que dissipam frustrações e fazem descargas do fel que se pensava derretido pelo sol algarvio. Creio firmemente que boa parte das pessoas gostava, no fundo, de ter os carros armados de bazucas para poder derrubar vitoriosamente, com um yeeees!, os inimigos, perdão, concidadãos. Ou então pára-choques para poder bater à vontade. E o que acho mais engraçado é que, quando estão fora das suas máquinas, são unânimes em considerar que as estradas portuguesas são um perigo. Por culpa dos outros, evidentemente.

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