Os super-emigras
Um grupo de gente que se considera a si mesma a nata da diáspora portuguesa reuniu na passada quarta feira com o Presidente da República para lhe dar conta de uma benemérita iniciativa que entre si congeminou.
Consiste ela em se unirem para, tirando partido dos seus contactos ao mais alto nível nos altos círculos internacionais em que se movimentam, melhorarem a imagem do país nesse mítico “lá fora” que tanto nos mói a paciência.
O que irá exactamente fazer o auto-denominado escol dos portugueses espalhados pelo mundo? Não tendo encontrado uma resposta precisa a esta interrogação, presumo que a principal actividade da agremiação consistirá em fazer circular entre os seus membros informação privilegiada sobre as excelências do país que os ajude a deixar boquiabertos os gentios diversos com quem diariamente convivem, cada vez que, no meio de uma reunião de administração, de uma conferência científica ou de uma vernissage, alguém mencione o santo nome de Portugal.
Assim sendo, a segunda pergunta terá evidentemente que ser: e porquê limitar os membros dessa frente mundial pró-lusitana a 300 indivíduos? Que mal haveria em abranger todo e qualquer emigrante português ansioso por participar na cruzada?
Ora, valha-nos Deus! Pois não se vê logo que toda a graça da coisa consiste exactamente em limitar o acesso? Tirando alguns (pouquíssimos) indivíduos indiscutíveis, a generalidade dos candidatos a gente importante esgadanhar-se-á para ser admitida entre os happy few. Não necessariamente porque os seus peitos inchem de ardor patriótico, mas porque ter entrada num grupo restrito de gente poderosa e influente é não só uma honra, como um activo crucial para a construção de uma carreira de sucesso.
De modo que este pequeno pormenor – a limitação do membership a 300 pessoas – vem afinal revelar-nos não só o segredo da organização como aquilo em que verdadeiramente consistirá a sua actividade.
Cunha não presta, mas networking é bom. Basta traduzir para inglês.

