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Para reformar é preciso mais do que fazer rácios (II)

Estava-se mesmo a ver, mas é preciso lembrar as vezes que for necessário: para reformar é preciso saber um bocadinho do que se quer reformar, e não apenas fazer comparações, muitas vezes avulsas. Quando, no relatório do FMI, se lê o primeiro parágrafo do capítulo IV, dedicado à "Education Spending", percebemos imediatamente que quem o escreveu talvez perceba muito de despesa, mas bastante menos de educação.

"In 2010, education outcomes still were below the EU15 average: for example, while PISA assessment scores have increased sharply, and, in 2010, exceeded those of several EU countries with a higher per-capita income (Figure 6.2), they were still below the EU average", escreve-se.

Há aqui pelo menos dois problemas: 

(1) a diferença é tão pequena (493-489) que não é seguramente significativa do ponto de estatístico (por exemplo, não há diferença estatisticamente significativa entre o resultado da Suécia (497) e o de Portugal (489)).

(2) o resultado de (1) não só não será significativo do ponto estatístico, como (mesmo que fosse) não tem (ou teria) qualquer importância analítica. A variável mais relevante, para o FMI, parece ser o rendimento por habitante. Ora, quem está ligeiramente familiarizado com este tipo de estudos internacionais, sabe que as variáveis como o rendimento por habitante ou mesmo a despesa em educação não explicam nada. Vejamos estes quadros retirados da página 35 deste relatório principal do PISA2009. Como se vê nos dois gráficos de cima, não há qualquer relação entre o desempenho na leitura e o PIB (R2=0,06), por um lado, nem com a despesa em educação, por outro (R2=0,09):

 

Por outro lado, como se vê nos dois gráficos de baixo, a correlação com o nível de educação dos pais é de 0,44 e com a percentagem de estudantes oriundos de famílias de baixo nível socioeconómico é de 0,46. Como já disse aqui, quando ajustado às condições económicas, sociais e culturais da família dos alunos, o resultado de Portugal no domínio da leitura é o sexto mais elevado da OCDE, e o segundo da UE21, atrás apenas da Finlândia.

 

Fazer a avaliação comparada do desempenho do sistema educativo português esquecendo isto não cumpre os mínimos académicos. Esta "análise" do FMI não passava numa cadeira sobre educação do 1.º ano de qualquer curso de ciências sociais.

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