Liderar
A actual direcção do PS está em funções há sensivelmente o mesmo tempo que o actual Governo. A sua principal missão é fazer oposição ao actual Governo e constituir-se como alternativa. Já passaram quase dois anos. Parece natural que dentro e fora do PS possa existir quem entenda que esta oposição não está a ser feita da melhor maneira.
Face isto impõe-se um cálculo consequencialista: (i) a oposição está a ser mal feita, mas mudar a direcção do PS, e pelo meio mobilizar o partido para uma luta eleitoral interna, é ainda pior para o país do que a oposição que está a ser feita; ou (ii) nada pode ser pior do que a má oposição que está a ser feita e, por isso, há que avançar para eleições internas.
Evidentemente que quem já lá está não quer sair. No seu entendimento o destino é o poder. O líder do partido há-de ser primeiro-ministro, mesmo que não saiba quando. Sendo perfeitamente legítimo este entendimento é totalmente compatível com um outro: quem não está na direcção e acha que pode fazer melhor deve avançar. Tudo isto é salutar.
Em face disto, as atitudes de António Costa nos últimos dias revelam-se de difícil leitura e compreensão. Ninguém parece acreditar que António Costa ache que Seguro está a fazer boa oposição. Pelo que restam as duas hipóteses que refiro acima: ou Costa nada faz porque acha que isso é um mal menor, comparado com o sobressalto no partido (e o modo como os militantes o iriam encarar por provocar tal sobressalto, pondo em perigo a sua vitória interna); ou Costa avança.
Costa não avançou. Mas também não ficou quieto. Costa preferiu tornar expressas as opções que apresento acima, sem escolher nenhuma delas. É duvidoso que isso seja bom para ele, para o partido e para o país.
Mais, é duvidoso que os custos políticos desta embrulhada (pouco característica de Costa) possam ainda ser evitados. Mas podendo emendar-se a mão - e Costa está em modo damage control - convém que se seja rápido e firme. O contrário do que os últimos dias mostraram. Dia 10 de Fevereiro é já ali.
Se Costa entende que a oposição actual é má e que pode fazer melhor, as eleições internas do PS são a batalha que faz sentido, mesmo que incerta. Costa deve mostrar que não dará apenas um grande Primeiro-Ministro, ele dá já um excelente líder da oposição. Cada vez mais necessária para acabar com o discurso enrolado e enganador do Governo.

