Cidadãos de segunda
Leio na primeira página do Jornal de Negócios este título: "Eleições em Itália ensombram solução da crise na Zona Euro". Partilho dessa opinião: as sondagens auguram uma maioria governamental frágil e sem apoio do Senado.
Logo, tratar-se-á de uma solução a prazo, que arrisca estimular o crescimento da opinião favorável a uma eventual saída do euro - uma opção razoavelmente viável no caso da Itália.
Mas o que principalmente me deteve no título foi a suspeita, ou quase certeza, de que seria muito difícil, ou quase impossível, ler um outro deste teor: "Eleições na Alemanha ensombram solução da crise na Zona Euro". E, no entanto, este não é menos correcto que o anterior. Mais: não traduz uma mera possibilidade dependendente de acontecimentos futuros, mas a indisputável constatação de que a união bancária e fiscal foram adiadas para 2014 devido às conveniências eleitorais do partido da Srª Merkel.
Até lá, nada irá acontecer, a não ser... a não ser que a situação na Itália ou na Espanha se torne incontrolável.
O que no fundo tanto os títulos que se fazem como aqueles que se evitam significam, é que estamos pouco a pouco a interiorizar e a aceitar a ideia de que há cidadãos de primeira, que têm o direito a votar nas soluções que entendem mais adequadas, e outros, de segunda, cujo voto se transformou num estorvo inaceitável para quem de facto detém o poder na Europa. Isto é colonialismo.
Já se sabia que a opinião democraticamente expressa de gregos, irlandeses e portugueses não conta para nada. Chegou agora a vez de italianos e espanhóis. Quem se seguirá?