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Senha para a liberdade

No final de uma conferência em que foi interrompido ao som de “Grândola, Vila Morena” Miguel Relvas descreveu aquela noite como normal. Não, aquela não foi uma noite normal. Estes dias que vivemos não são dias normais.

São dias com desespero – como só podem ser os dias em que 17% dos portugueses e mais de 40% dos jovens estão desempregados. São dias com medo – porque é medo que provoca um Primeiro-ministro que descreve o encerramento de empresas em massa como seleção natural, em última instância benéfica para a economia.  E são dias de raiva – porque só a raiva pode nascer quando nos governa quem dizia que a culpa era de um país que vivia acima das possibilidades e de um Estado que asfixiava com as suas gorduras, e prometeu que mudando o governo acabava a crise.

Mas estes dias também são – e isto tem que preocupar quem defende a democracia que nasceu ao som dos passos sobre a gravilha que abrem a maravilhosa canção de Zeca Afonso – dias em que os gritos de protesto contra o governo estão muitas vezes em coro com gritos contra a politica, contra os políticos, contra os eleitos e tantas vezes contra as eleições. Relvas pode merecer ouvir cantar a igualdade, porque o discurso contra as prestações sociais é contra a democracia e contra a constituição. A Paulo Macedo pode fazer falta ouvir cantar que o povo é quem mais ordena, porque o SNS é uma conquista de que os portugueses não querem abdicar. Mas os protestos não podem ser acusações de “ladrões” e de “assassinos”. E estes acordes não podem ser uma forma de impedir as pessoas de falar, ou uma forma de ameaçar e perseguir.

“Grândola, Vila Morena” foi escolhida como senha para a liberdade. A sua utilização em protestos e como símbolo de desespero e de indignação é legítima e faz sentido. Mas ela não pode representar, como tem parecido nestes dias não normais, uma forma de ódio e de boicote, até à expressão de outros. Ou estaremos a usar o que foi uma senha para a liberdade e para a democracia como sanha contra a política e, portanto, contra a própria liberdade.

 

[O meu artigo de hoje no Económico]

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