Ao deputado do PSD Nuno Encarnação (parte I)
Senhor deputado, da próxima vez que procurar um soundbyte para largar num comentário televisivo, veja se escolhe um que sirva os seus propósitos em vez de fazer figuras tristes. É que o "Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não" que atirou há minutos na televisão não é, ao contrário do que terá pensado, um chavão que signifique teimosia cega (para não dizer de asno), que era o que pretendia rotular o João Galamba. Pelo contrário, e talvez não saiba, é o refrão daquele canto maior da liberdade musicado (e imortalizado) pelo Adriano Correia de Oliveira. Não esperava que conhecesse o poema inteiro, que é longo. E nem vale a pena relembrar que há nele versos como "Vi minha pátria pregada nos braços em cruz do povo". Mas esperava, por parte de um deputado da nação, que conhecesse, ao menos, a quadra completa de que citou apenas dois versos. Nada de muito surpreendente. O ex-ministro Relvas também só conhecia, do Grândola, o "terra da fraternidade" e outros versos acabados em "ade" (pelo menos, foi o que cantou na célebre sessão). Sabe o que vem antes do "Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não"? Vem isto: "Mesmo na noite mais triste / em tempo de servidão".