Ao deputado do PSD Nuno Encarnação (parte II)
Senhor deputado, não resisto a citar o ex-Primeiro Ministro: "não escave mais, que só afunda o buraco". O que escrevi ontem, de forma atabalhoada (porque o assunto mereceria um outro refinamento), acerca da infeliz tirada que teve frente ao João Galamba, baseou-se em algo que julguei que ambos (eu e o senhor deputado) partilhávamos: a ignorância. Eu ignorava o seu perfil, a sua origem e os seus gostos musicais e escrevi sob essa premissa. Achei que o incrível tiro no pé que deu em direto, citando o célebre canto de resistência à ditadura com um "há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não", atribuindo-o ao seu adversário como sinal de teimosia e de cegueira, tinha uma única explicação, a ignorância. Desconheceria - pensei eu - a letra, não estaria a par do significado da citação, ignoraria que estava, na realidade, a fazer um elogio ao João e a equiparar o governo que o seu partido apoia à ditadura de Salazar. Era a única explicação possível, na minha ignorância e cá para nós, de ignorante para ignorante (é por isso que o post lhe é dirigido a si).
Subitamente, eis que tudo se ilumina. Eu, ex-ignorante, fiquei a saber que o senhor deputado, afinal, é de Coimbra, conhece perfeitamente o Adriano, o Alegre, o Portugal (e presumo que também o Brojo, o Menano, o Goes, enfim). Fiquei a saber que conhece o Grândola inteirinho e que até o ensinou aos seus colegas deputados. Os meus cumprimentos e um recado: quando acabar, pode passar aos governantes, palpita-me que terá um longo caminho pela frente. Pelo menos num caso irá, infelizmente, tarde demais.
Senhor deputado, o comentário que deixou no post desconcertou-me. A ignorância, essa, eu compreendia-a (é algo que todos nós padecemos de forma crónica). Agora que, afinal, tenha perfeita consciência de que classificou a voz do João Galamba como a "candeia dentro da própria desgraça", "que resiste" e que "diz não" à "desgraça", à "servidão", a "quem gosta de ter amos" e a quem traz a pátria "crucificada nos braços negros da fome" - palavras do poema que citou e que comprovadamente conhece - e que ainda me venha acusar de "fazer juízos de valor sem conhecer as pessoas", isso, senhor deputado, não sei bem como hei-de chamar. De uma coisa estou certo: ignorância não é, certamente.
(nota: este post é uma reação a um comentário aqui, assinado por Nuno Encarnação, que presumo seja o próprio visado - e cuja atenção agradeço. Como não tenho forma de verificar a identidade dos comentadores, fica a ressalva: o que escrevi acima parte do pressuposto de que o comentário é da sua autoria).