Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

jugular

Ao deputado do PSD Nuno Encarnação (parte II)

Senhor deputado, não resisto a citar o ex-Primeiro Ministro: "não escave mais, que só afunda o buraco". O que escrevi ontem, de forma atabalhoada (porque o assunto mereceria um outro refinamento), acerca da infeliz tirada que teve frente ao João Galamba, baseou-se em algo que julguei que ambos (eu e o senhor deputado) partilhávamos: a ignorância. Eu ignorava o seu perfil, a sua origem e os seus gostos musicais e escrevi sob essa premissa. Achei que o incrível tiro no pé que deu em direto, citando o célebre canto de resistência à ditadura com um "há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não", atribuindo-o ao seu adversário como sinal de teimosia e de cegueira, tinha uma única explicação, a ignorância. Desconheceria - pensei eu - a letra, não estaria a par do significado da citação, ignoraria que estava, na realidade, a fazer um elogio ao João e a equiparar o governo que o seu partido apoia à ditadura de Salazar. Era a única explicação possível, na minha ignorância e cá para nós, de ignorante para ignorante (é por isso que o post lhe é dirigido a si).

Subitamente, eis que tudo se ilumina. Eu, ex-ignorante, fiquei a saber que o senhor deputado, afinal, é de Coimbra, conhece perfeitamente o Adriano, o Alegre, o Portugal (e presumo que também o Brojo, o Menano, o Goes, enfim). Fiquei a saber que conhece o Grândola inteirinho e que até o ensinou aos seus colegas deputados. Os meus cumprimentos e um recado: quando acabar, pode passar aos governantes, palpita-me que terá um longo caminho pela frente. Pelo menos num caso irá, infelizmente, tarde demais.

Senhor deputado, o comentário que deixou no post desconcertou-me. A ignorância, essa, eu compreendia-a (é algo que todos nós padecemos de forma crónica). Agora que, afinal, tenha perfeita consciência de que classificou a voz do João Galamba como a "candeia dentro da própria desgraça", "que resiste" e que "diz não" à "desgraça", à "servidão", a "quem gosta de ter amos" e a quem traz a pátria "crucificada nos braços negros da fome" - palavras do poema que citou e que comprovadamente conhece - e que ainda me venha acusar de "fazer juízos de valor sem conhecer as pessoas", isso, senhor deputado, não sei bem como hei-de chamar. De uma coisa estou certo: ignorância não é, certamente.

(nota: este post é uma reação a um comentário aqui, assinado por Nuno Encarnação, que presumo seja o próprio visado - e cuja atenção agradeço. Como não tenho forma de verificar a identidade dos comentadores, fica a ressalva: o que escrevi acima parte do pressuposto de que o comentário é da sua autoria).

2 comentários

Comentar post

Arquivo

Isabel Moreira

Ana Vidigal
Irene Pimentel
Miguel Vale de Almeida

Rogério da Costa Pereira

Rui Herbon


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • Anónimo

    The times they are a-changin’. Como sempre …

  • Anónimo

    De facto vivemos tempos curiosos, onde supostament...

  • Anónimo

    De acordo, muito bem escrito.

  • Manuel Dias

    Temos de perguntar porque as autocracias estão ...

  • Anónimo

    aaaaaaaaaaaaAcho que para o bem ou para o mal o po...

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2007
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D

Links

blogs

media