getting older
Primeiro foi o choque, no ano passado, ao verificar que o Blade Runner tinha feito 30 anos. Um dos filmes mais marcantes da minha geração, aquela obra-prima que não envelhece e não acusa nem o passar dos anos nem a altura em que foi feito, completava três décadas. Meu Deus, tanto tempo. Depois, há uns meses, novo arrepio: agora era Quem Tramou Roger Rabbit?, o prodígio da animação combinada com filmagem "real" que revisitava os personagens clássicos (já muito clássicos, em 1988) da Disney e dos Looney Tunes, que faz um quarto de século. Mas o mais bizarro estava ainda para vir. Há duas semanas, completaram-se 30 anos sobre a estreia de Flashdance. Não é que eu tivesse sido fã do filme ou que me tivesse marcado por aí além. Pelo menos, que tivesse dado por isso na época. Mas passado tanto tempo - revi-o há dias - , pude constatar que sim, foi uma verdadeira revolução. A MTV dava os primeiros passos e o primeiro videoclip (Video Killed the Radio Star, dos Buggles) era ainda uma coisa relativamente recente. Uma história simples, pobrezinha e convencional, sem rasgos interpretativos e com elenco mais ou menos obscuro que não passa de um suporte ao essencial: uma justaposição de clips bem concebidos, dançados e filmados. Quem não se lembra da Jennifer Beals e do seu duche em palco (ou da sua stunt)? Esta inversão é hoje banal e corriqueira (o primado da forma, do embrulho, da imagem ou dos efeitos especiais sobre o conteúdo, o argumento ou a realização), mas na época era novidade. E há outra: não me lembro, até essa data, de outro filme com tal carga de presença feminina, onde uma das músicas ponha uma mulher a dizer "I'm goin' on a manhunt, turn it around / Women have been hunted, now they're huntin' around" e onde a protagonista diga, com todas as letras, "in fact, I fucked his brains out".