ground zero
Quando eu andava para aí no (antigo) Ciclo Preparatório, um dos maiores problemas da maior parte dos meus colegas era o das "perguntas de interpretação". "Interpreta.." era uma coisa terrível, não sabiam bem o que queria dizer e, ainda menos, o que fazer. De uma maneira geral, reproduziam o excerto do texto em causa. A professora lá se esforçava por lhes fazer entender: "não copiem, não escrevam o que lá está, expliquem pelas vossas próprias palavras". À medida que o Ciclo Preparatório se afastava, todos nós tomámos consciência de que uma coisa era copiar e reproduzir, outra era integrar o conhecimento "do que lá está" no nosso discurso. E quando ficamos muito, muito crescidos e publicamos artigos e trabalho académico e integramos o que se pomposamente se chama de "comunidade científica", aquela coisa preguiçosa e infantil dos 10 anos de idade passa a ter um nome feio: "plágio".
O plágio não é só preguiça; é desonestidade. É batota. É escrever e assinar um texto, apresentá-lo como nosso, ocultando que nos limitámos a copiar ou a traduzir um discurso alheio. Foi isso o que fez o Abel Matos Santos. Eu posso ter a minha opinião sobre os seus escritos: acho-os imbecis, ultramontanos e perigosos. Uma pessoa que, na sua página do Facebook, comenta uma notícia sobre um assassinato nos seguintes termos: "Aqui está o resultado do multiculturalismo e da tolerância! Vamos voltar às cruzadas... Portugal e a Europa que não acorde... um dia é tarde demais!" nâo me merece muito mais que desprezo. E que se arme em especialista, psicólogo, sexólogo, tudólogo ou o que quiser, não me afeta. Que invoque a autoridade do Ritz Fitzgibbons e do NARTH (aquela entidade americana que pretende "curar" a homossexualidade) como argumentos contrários à coadoção por casais do mesmo sexo, não me incomoda por aí além. E que a imprensa dê cobertura e faça eco dos seus dislates, enfim, ofendia-me se fosse caso único. Tenho também a minha opinião, nada mais. A Ana Matos Pires, que é médica psiquiatra, que discuta e desmonte a sua argumentação (já o fez, aliás).
Outra coisa, e bem diferente, é o plágio que o mesmo personagem fez no célebre texto que teve o desplante de publicar na imprensa e que veio reproduzido no Corta-fitas. Isso não tolero, não aceito e faz-me terminar de imediato a conversa. Em Portugal convive-se demasiado com estas batotas. Magoa-me que o Pedro Picoito passe por cima do assunto como se nada fosse e diverte-me que o João Távora, que foi buscar a alegada credibilidade científica do dito personagem e que lhe reconhece "tanta autoridade académica quanto brio profissional", venha agora dizer que o povo é sereno e que isto é tudo areia para os olhos. Por mim, estamos conversados.