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o papa-fitas

As fitas são, como toda a gente sabe, como as cerejas. Há quem as faça e quem as corte, desde o saudoso Américo Thomaz (curiosamente encarnado nos nossos dias em forma de palhaço) ao maravilhoso blog que debita, em glória, plágios de criaturas dotadas de "tanta autoridade académica quanto brio profissional". Depois, qual vénus de Boticcelli nascida de uma concha e planando acima do comum dos mortais, há os espíritos superiores que olham com desdém para as ratazanas que se mordem aqui na Terra mas que, em termos fiteiros, se revelam verdadeiros junkies agarrados ao celuloide. O Pedro Picoito é, talvez, o mais interessante.

Na segunda-feira, decidiu meter ordem no "filme dos estudos sobre a coadopção gay", uma sequela daquele que, confessa, "protagonizou" há uns tempos. É sempre bom conhecermos os protagonistas das fitas, sobretudo aqueles que modestamente dizem que nem queriam constar nos créditos mas que depois não resistem a um "mamãe, olhe eu aqui". Ora, PP (não confundir com o autor destas linhas, mero gaffer ou  key grip da dita fita) atira-se logo à cena-choque do script (da sequela, não do precioso original): a "evidência" de "que os casais gays são mais instáveis ou mais promíscuos e isso desaconselha a adopção". É uma evidência, digo eu, fiteira, mas para PP é cartesiana: olha para ela com a clareza e nitidez dos espíritos iluminados e superiores. Segue-se a parte mais fraquinha, aquela que mete estudos e critérios cientificos, que dá sempre em chachada, sem tiros nem espadeiradas. Falar em "estudos atualizados" e em "peer review" pode ser lá muito giro para os maluquinhos da ciência mas dão fitas piores do que o Manoel de Oliveira a filmar a relva a crescer. PP é historiador e deveria estar consciente da importância de ambos, mas vir cá misturar critérios académicos com pipocas estraga tudo. É muito melhor, efetivamente, obter o patrocínio do guru Abel Plágio Santos. Adiante.

Como todos os agarradinhos das matinés de reprise, PP tem que arranjar uma boa teoria da conspiração. A atual discussão da coadoção presta-se pouco ao assunto, por se tratar, em boa verdade, de um pormenor unicamente destinado a corrigir uma injustiça e a garantir paridade jurídica a situações de facto. Mas nada disso trava uma gula fiteira que se preze. Lamentavelmente, Picoito escreveu o seu texto umas horas antes do magnífico serão televisivo desse dia; tivesse esperado um pouco e podia dar uso de thriller à cena de Marinho Pinto, de olhos esbugalhados e aos gritos, de dedo em riste acusador, a dizer que "querem impedir que as crianças tenham um pai e uma mãe!". Até poderia citá-lo abundantemente, que o eminente bastãonário ficaria deliciado (pois não é modesto como PP e nunca diria que o seu protagonisto é uma "honra imerecida"). Assim, sem um muso inspirador de calibre, o blogger saiu-se de forma medíocre: lá deita mão ao estafado lobby gay - já mais gasto que os aliens verdes e cover-up de Roswell - que, lá está, distorce o debate "científico", arruma para o lado quem manifesta dúvidas ou tem posições contrárias às suas. Este blog, presumo que com a Ana Matos Pires e eu próprio na dianteira (pelo menos, somos os únicos citados), faz portanto parte de uma estratégia global. Falta de imaginação, acho eu. Mas isto sou eu a dizer.

Nem falta, na argumentação papa-fiteira de Picoito, o comic relief. Não, não é o palhaço em que estão a pensar. Sou eu e o Abel Plágio Santos. Este é dado, finalmente, por autor de plágio - a confissão é um sacramento, pois bem -, algo "lamentável" e que "enfraquece" o próprio e quem o citou. Aqui, lamento, mas discordo frontalmente, como já disse: nem uma coisa nem outra. É desprezível e descredibiliza totalmente o autor, não quem o citou ou defendeu. A menos, como é o caso, que este último minimize o assunto. Mas nada disto interessa, segundo PP. É aqui que entra o outro PP, o humble servant que escreve estas linhas e que, "com a sua capacidade de popularizar alta metafísica", chama "alucinados" aos senhores da Narth. Ora, relembro que se trata daquela associação americana muito preocupada com os homossexuais, não exatamente na luta contra a homofobia (certamente porque para isto já haja gente até demais), mas com a sua "cura", pugnando pelo direito dos homossexuais de "diminuir a sua homossexualidade e de desenvolver o seu potencial heterossexual"E aqui, Picoito é tímido e titubeante: "o que está em causa, no fundo, é saber se a sexualidade tem origem no meio, e pode mudar, ou se é uma tendência inata, e não pode mudar, ou se ambas as coisas, e como se relacionam". Ou seja, porque é que uns são uns John Holmes briosos e outros saem bichonas deploráveis. Deveria - opinião muito pessoal - ser um pouco mais explícito e menos envergonhado: "para se saber exatamente como acabar com a homo". Aí sim, teríamos, não uma (sequela de uma) fita, mas um blockbuster.

No final, PP suspira por outra sequela, numa supreendente incursão retrospetiva, quiçá como a Guerra das Estrelas, que recuou ao passado para vender celuloide. A trama é verdadeiramente genial e explica todas as interrogações deixadas pelo caminho: porque é que o Jugular (espécie de irmandade Sith, presumo) "se arvora em paladino da “academia” e da honestidade intelectual" e permite que, no seu seio, alguém profira publicamente certas afirmações. Sangue, sangue, Picoito queria sangue, um Kill Inês à Tarantino. Juro que fui ver se haviam sido ditas em nome do blog. Ou se tinha havido plágio, sequestro, burla, roubo de manuscrito. Não encontrei nada. Nem percebi porque raio caiu isto aqui de paraquedas. Verdade se diga, achei um mau final, ainda que com uma sempre útil lição de moral: "não vejo de onde vem a autoridade do comité jugular para dar lições de ética". Mas, no fim de contas, é aqui que reside boa parte do fascínio das fitas, mesmo aquelas muito velhinhas e batidas, cheias de riscos e tesouradas e que alguns tentam reconstituir e fazer cópias retocadas, remasterizadas e com 3D e dolby surround.

Deixo aqui a minha sugestão (cromática, adiante-se) para a banda sonora, que certamente completará o sucesso, não apenas desta fita, mas de todo este género fiteiro.

(Este texto começou a ser escrito na segunda; uma forte sensação de náusea causada pelo visionamento de parte do Prós e Contras estorvou a sua publicação em tempo útil)

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