Venha o porco a andar de bicicleta
Já não me falta ver nada depois de ler estas linhas, escritas por Vasco Graça Moura (eheh que topete).
Agora, e em paralelo com esta opacidade progressiva do diálogo, está- se a assistir à proliferação do insulto. E, pior, o insulto não se limita a ser personalizado, entra no próprio plano institucional. As coisas não começaram só com o recente comentário sobre o Presidente da República feito por Miguel Sousa Tavares que teve, de resto, a elegância de vir reconhecer, logo em seguida, que se tinha excedido e não devia ter dito o que disse. Mas esse caso propicia um alastrar de atitudes negativas e insultuosas recuperadas pelo populismo demagógico e produzidas na praça pública, engrossando em catadupa, de tal modo que esse e outros insultos são vociferados contra altas figuras e instituições do Estado, e multiplicados pela comunicação social. Tais atitudes visam levar a uma profunda descredibilização do Estado e dos seus órgãos, a um esboroar de quaisquer formas de autoridade legítima, a uma ruptura do sistema, à destruição da imagem dos visados e à incapacidade prática de repressão de eventuais infracções criminais.
É um processo de agitação e desgaste muito preocupante, porque bloqueia quaisquer possibilidades de discussão e apreciação crítica daquilo que estiver em causa e porque é susceptível de alastrar como forma de protesto numa dinâmica de massas que não se sabe onde pode ir parar.
O problema não se resolve limitando a liberdade de expressão nem excluindo a polémica por mais acesa que seja, mas é necessário perceber- se o grau de responsabilidade que decorre desta instrumentalização e generalização do insulto como arma política.
Um país que não respeita as suas instituições legítimas é, por definição, um país inculto. E isso só pode aumentar a gravidade do insulto. O insulto não se limita a ser personalizado, entra no próprio plano institucional”.