Alguém me diz em que ano estamos?
Viva Zapatero! é um documentário de 2005 da humorista Sabina Guzzanti que critica a censura imposta por Silvio Berlusconi aos meios de comunicação públicos em Itália. O documentário incide sobre a proibição da transmissão do programa Rai8t, um programa de humor de Sabina censurado logo após a emissão do primeiro episódio, e inclui trechos de programas censurados, entrevistas com funcionários do governo, vítimas da censura, além de professores universitários e jornalistas de diversos países. Agora há quem queira censurar a humorista de uma forma mais definitiva e drástica.
Em Julho passado, Sabina participiou numa acção de protesto em relação à interferência do Vaticano nos assuntos de Estado em Itália, nomeadamente no que respeita ao aborto, eutanásia e direitos de homossexuais, mas também em protesto das leis ad personam que protegem especificamente os interesses de Silvio Berlusconi. Algures durante o rally, Sabina avisou os presentes de que, graças à lei Moratti (da ex-ministra da educação, Letizia Moratti, que tentou banir o ensino da evolução em Itália) dentro de 20 anos seria o Vaticano a escolher e vetar os professores da escola pública e concluiu este ponto da intervenção com:
But then, within 20 years the Pope will be where he ought to be — in Hell, tormented by great big poofter devils, and very active ones, not passive ones.
Pode-se questionar o bom gosto da piada mas não se pode querer condenar a humorista de um a cinco anos de prisão por «heresia» ou antes, por «ofender a honra da pessoa sagrada e inviolável» de Bento XVI. Mas é essa a intenção de Giovanni Ferrara, o procurador de Roma, que espera apenas a autorização de Angelino Alfano, o ministro da Justiça, para avançar com duas acusações contra Sabina, violação dos artigos 313 e 278 do código penal italiano que tratam de ofensas ao presidente da República Italiana. Ferrara recorreu ao tratado de Latrão, assinado em 11 de Fevereiro de 1929 por Mussolini e Pio XI, para estabelecer o seu caso. O tratado que criou o estado soberano do Vaticano, impôs o catolicismo como religião oficial do país, instituiu a obrigatoriedade do ensino religioso, proibiu a admissão em cargos públicos dos sacerdotes que abandonassem a batina e ofereceu uma quantidade vultuosa de dinheiro a Pio XI, impõe também uma punição idêntica a quem insulte o Papa e o chefe de estado italiano (o rei na altura), embora o castigo a quem cometa o primeiro «crime» esteja dependente da anuência do ministro da Justiça. Espero sinceramente que uma espreitadela ao relógio seja suficiente para despertar o zeloso procurador desta sua cruzada insane contra a sátira, que Paolo Guzzanti, pai da humorista e deputado do centro-direita classificou como um «regresso à Idade Média». Não sei porquê lembrei-me dos cartoons de Maomé e do famoso cartoon do António.

