uma questão de ajustamento
Os professores fizeram greve? está mal, porque isso prejudica os alunos. Os estivadores? pior, porque isso prejudica a economia. Os médicos? muito mau para os utentes. Idem para os enfermeiros. E os trabalhadores do setor dos transportes? infernizam a vida a milhares de pessoas. Os pilotos, os controladores de tráfego aéreo? colocam a TAP à beira do abismo. Os bancários, os contabilistas, os funcionários administrativos? prejudicam gravemente o país. Os técnicos municipais, os jardineiros, os que fazem recolha do lixo? afetam a rotina diária de muita gente. As greves gerais? paralisam a economia, causam milhões de prejuízo, fazem Portugal andar para trás.
Dizem que a greve é um direito porque consta na Constituição. Ora, o problema não está na Constituição em si (que é sagrada), está nos resquícios do PREC que ainda lá restam. Bastariam umas pequenas atualizações. No art. 57, onde diz "1. é garantido o direito à greve", deveria ser acrescentado "desde que não cause danos a terceiros ou prejuízos aos altos interesses da Nação". De seguida, onde se lê "2. Compete aos trabalhadores definir o âmbito de interesses a defender através da greve, não podendo a lei limitar esse âmbito", bastaria uma quase impercetível correção: "Compete ao governo em funções definir o âmbito de interesses a defender através da greve, não podendo os trabalhadores alterar esse âmbito". E estava resolvido. Não percebo a razão para tanto chinfrim. Quem quisesse fazer uso do seu legítimo e democrático direito à greve, constitucionalmente salvaguardado, não esqueçamos, podia fazê-lo ao domingo, ou no seu período de férias. Porque é que ninguém faz greve em agosto? As Greves Gerais seriam no dia de Natal; as manifestações, na Páscoa e no Corpus Christi, desde que acompanhassem as procissões. Atenção, não sou contra a greve. Ninguém é. Até o Senhor Presidente da República, Senhor Professor Doutor Aníbal Cavacuo Silva, Chefe de Estado e símbolo máximo da Nação, é a favor. Mas abusos, não. O ideal seria que os grevistas se limitassem a usar uma braçadeira negra no trabalho. Mostravam a sua revolta mas não prejudicavam ninguém. A televisão ia lá, filmava tudo e as pessoas, em casa, compreendiam como os trabalhadores estavam muito zangados e como a sua luta era justa. E se estivessem mesmo, mas mesmo muito arreliados com alguma coisa incorreta que o Senhor Ministro tivesse feito, que o ignorassem mesmo, mesmo, de forma dura, com maldade, seguindo este exemplo, apre.