a quem tenho que pedir desculpa?
Foi há dois anos. O meu carro desapareceu à porta de casa. Era uma chaveco velho com 20 anos, mas dava muito jeito, sobretudo por ser a diesel e pelo estilo "carro de combate" que aguentava tudo. Até hoje não consigo perceber quem se terá dado ao trabalho de furtar aquilo. Disseram-me que foi por causa das peças, asseguraram-me que foi por causa do motor ("uma bomba, valia mais do que o carro"), houve quem me garantisse que foi para um país africano. A explicação mais razoável foi que o usaram e que o largaram nalgum buraco. Nunca apareceu. Inglório fim para um Opel Corsa que suportou tudo, inclusivé um abalroamento estúpido por um cavalheiro que não parou num stop, que guiava sem seguro e que a polícia não quis saber porque tinha o "selinho" no limpa pára-brisas (e o guarda não conferiu a data), e por cuja indemnização ainda aguardo, em processo judicial, contra o dito e contra aquela maravilha da cidadania chamada Fundo de Garantia Automóvel.
Adiante. Passado um ano, feito o luto do velho boguinhas e perdidas as esperanças de o reaver, era chegada a hora de cancelar a matrícula e de deixar de pagar o Imposto de Circulação Automóvel que o fisco simpaticamente me continuava (e continua) a cobrar. Numa conservatória do registo automóvel, disseram-me que teria que ir ao IMTT tratar disso. E foi o que fiz. Depois de consultar o respetivo site, perdi uma manhã numa Loja do Cidadão. Nada feito, afinal era preciso uma "declaração da polícia" atestando a queixa que fiz no dia do furto. Protestei, porque nada disso constava na página informativa do IMTT e escusava de perder horas para nada. Paciência, encolher de ombros.
Muito bem. Passados meses, respirei fundo e decidi encerrar de vez a história. Fui à esquadra da GNR onde a queixa fora efetuada. Ninguém sabia o que fazer e acabaram por me encaminhar para a da PSP, "porque eles é que têm as bases de dados das viaturas furtadas". Lá fui. Histórias surreais à parte, lá me deram um documento. Agora era só voltar ao IMTT e acabar com isto. Para quem não saiba, o congestionamento destes serviços faz perder um dia inteiro. Há semanas fui lá, estavam 114 pessoas à minha frente. Hoje, finalmente, madruguei e apareci antes da hora de abertura. Duas horas de espera não é muito, de facto. Caso resolvido? Não. "Esta declaração não serve" foi o veredito. Voltei a protestar, porque não tenho culpa que a polícia não saiba o que quer o IMTT, que isto deveria estar tudo devidamente regulamentado e que andar de IMTT para a GNR, da GNR para a PSP e da PSP novamente para o IMTT não me parece justo, sobretudo porque, se as coisas funcionassem, deveria ser o próprio IMTT a pedir os dados que quisesse à polícia (qualquer que fosse). O processo entrou, fiz um "pedido" com a informação, mas já me avisaram de que deverei receber uma carta a dizer que falta a declaração adequada. E tive que pagar 10 €. Ah! e "tenho que lhe dizer que, para todos os efeitos, a matrícula não está cancelada". O fisco lá irá cobrar mais uma anuidade de IUC, e eu continuarei a perder o tempo que as instituições oficiais e policiais acharem adequado. E lá vamos cantando e rindo. Eu, não. Quem me roubou o carro, decerto que sim. Tenho a certeza de que lhe deu muito menos trabalho do que me está a dar a mim.