S.O.S. linguístico
Há cerca de um mês, aquando da instalação de Paulo Portas no Palácio dos Condes de Farrobo, vi surgir na imprensa uma palavra para mim desconhecida: farrobodó. Toda a minha vida disse - e escrevi - forrobodó e estranhei a grafia que foi, amiúde, acompanhada de uma explicação similar à surgida na Visão, e que passo a transcrever
Os principais cantores de ópera europeus da época atuaram no seu Teatro Thalia, anexo ao palácio, onde invariavelmente terminavam todas as festas, nas quais a família real marcava presença, em especial o rei D. Fernando e a sua filha Maria Ana. Foi com estas festas opulentas que, reza a lenda, lembrada por Marina Tavares Dias, Quintela estoirou uma fortuna que demorara dez gerações a criar. Foi por causa delas que surgiu também a expressão popular "farrobodó". (daqui)
Ainda estava dominada pelo torpor das férias e, contrariando a minha natureza, não fui tirar a história a limpo. Há minutos vi a palavra ser usada no twitter (por acaso pelo João Galamba), com a grafia que também uso e a dúvida de início de agosto voltou. Desta vez, contudo, não me deixei ficar a preguiçar, levantei-me do sofá e fui buscar o meu fiel Huaiss. Nele "farrobodó" não consta e a origem da palavra é explicada de forma muito diferente. Veja-se:
ETIM: segundo Evanildo Bechara, var. actual do galg. forbodó, termo primitivo da região mas comum a todo o Portugal, associando-o Joseph Piel a farbodão, do fr. faux-bourdon(...) *
Não tenho outros dicionários à mão para verificar se esta ausência de "farrobodó" é geral e se há outra etimologia proposta. Alguém me ajuda? Pliiiiiize...
* Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, tomo III, Lx, Círculo de Leitores, 2003, p. 1786
Adenda: Já tive resposta das duas pessoas que linko no post.
Ah! Antes de mais nada, muito obrigada aos vários comentadores qe me deixaram links mas não resisto a um pequeno reparo sobre a wikipedia. Não questiono, bem longe disso, a tremenda utilidade da mesma e, na grande maioria dos casos, a sua fiabilidade. Há, contudo, exceções e este caso é paradigmático para falar delas: quando há historietas/mitos urbanos a correrem sobre determinado tema a wiki é demasiado permeável aos mesmos. Continuo, portanto, muito pouco convencida da história dos Condes de Farrobo. Continuemos...
O Helder Guegués acabou de publicar um texto sobre o assunto, que podem ler aqui.
O Vítor respondeu-me no meu Facebook e, apesar de se confessar limitado porque não tem com ele dicionários e outros materiais, a resposta é semelhante. Só me dá mais trela na etimologia porque já sabe que eu sou uma chata que gosta de confusões e de conversa. Diz ele, "A história do Farrobo é estranha: porque se lhe acrescentaria aquele dó final? O galego fordobo também me parece um étimo improvável, não vejo bem razão para a mudança da tónica e para aparecer ali o rr. Depois, encontrei a tese da origem brasileira de forró+bozó, "macumba", que também acho um bocadinho puxada pelos cabelos, como dizem os franceses. E por fim, claro, há também a proposta de "origem onomatopeica", que quer dizer, normalmente, "não fazemos ideia de qual seja a origem da palavra". (...) E olha, se calhar é de pensar em mais uma hipótese etimológica, relacionada com farra (que também ninguém sabe de onde vem...) :-)"

