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jugular

da falta de escrúpulos (e de tudo em geral, menos descaramento)

portas deu uma conferência de imprensa, com maria luis albuquerque e carlos moedas, a propósito do fecho da 8ª e 9ª avaliações da troika, em que afirmou que não haveria mais austeridade, mas apenas 'pequenas e médias poupanças'. afirmou mesmo que não haveria 'a tsu dos pensionistas'. nos dias seguintes, porém, surgiu a notícia de que iria haver um corte nas pensões de sobrevivência, desmentindo o vice-primeiro ministro. surgiram também, a 6 de outubro, notícias quanto ao valor de referência para o corte: 629 euros. valor que, a 7 de outubro, o ministro da tutela, que, recorde-se, até é do cds/pp, não desautorizou, falando de 'condição de recursos' e comparando as pensões de sobrevivência, que é uma prestação do regime contributivo, a prestações sociais não contributivas como o subsídio social de desemprego, o abono de familia e o rsi

 

o que resulta desta linha de tempo é claro: ou o governo se comprometeu com um corte de 100 milhões nas pensões de sobrevivência sem saber como o faria, o que dispensa comentários, ou tinha em mente o tal corte a partir de 629 euros e recuou perante o clamor surgido, arranjando esta saída dos 2000 euros de cômputo nas pensões recebidas (a de sobrevivência 'mais outras'). 

 

dez dias após a conferência de imprensa em que mentiu descaradamente, portas vitimiza-se descaradamente -- como vem sendo o timbre deste governo de machetes -- alegando que houve pessoas sem escrúpulos a querer alarmar idosos.

 

de facto, houve, e há, pessoas sem escrúpulos: sem o mínimo escrúpulo de se comprometer com uma medida com um tal potencial de alarme sem saberem como iam aplicá-la; sem o mínimo escrúpulo de fazer uma conferência de imprensa mentindo e escondendo a medida; sem o mínimo escrúpulo de lançar notícias cá para fora para aferir as reacções a um corte a partir dos 629 euros; e sem o mínimo escrúpulo de aparecer, dez dias após a primeira conferência, a acusar terceiros de falta de escrúpulos e de desonestidade.

 

claro que por esta altura já se espera praticamente tudo de alguém como portas ou passos. mas que isso não nos impeça de nos indignarmos e enojarmos, e de nos perguntarmos por que raio, se, como portas diz, a medida hoje 'explicada' é 'um corte mínimo' (aposto que os 25 mil reformados sobre quem vai incidir não acharão, por motivos óbvios, o mesmo: vão ter de contribuir com uma média de 4000 euros/ano, 285 euros mês, se o quantitativo do corte for mesmo os tais cem milhões), o governo se abalança a violar o princípio da confiança que estrutura o sistema da segurança social e corre o risco de inscrever mais um potencial chumbo constitucional no oe.

 

a resposta só pode ser que, aqui, como no caso do anunciado corte de 10% nos salários dos funcionários públicos, se trata de uma teima ideológica e de uma estratégia de confronto claro com o tribunal constitucional. por pura incapacidade de fazer valer perante a troika a ideia de que existe um reduto de soberania portuguesa, porque precisa de uma desculpa (mais uma) para mais uma vez falhar e para justificar um segundo resgate ou porque crê que vencerá o tc pela ameaça e pela chantagem? todas as hipóteses são possíveis, e são todas más. todas relevando de uma absoluta ausência de respeito pelas pessoas individualmente consideradas, pela lei fundamental e pela mais básica decência. 

 

se lhe perguntarem se ele tem linhas vermelhas, não tem. se lhe perguntarem se tem vergonha, nem sabe o que tal seja. se lhe perguntarem se acha que se vai safar, está convencidíssimo disso. e o pior de tudo é que é mesmo possível: quem se mantem no governo depois de uma demissão irrevogável e sobe até nas sondagens pode acreditar que o céu é o limite para todas as desonestidades e patifarias. 

 

 

 

 

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