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Alternativas

A pergunta "qual é a alternativa?" tem sido usada desde o início para justificar a irracionalidade das medidas que nos têm sido impostas. Mas não é por isso que deixa de ser uma pergunta útil e válida. Acho que todos concordamos que estamos num contexto em que as opções políticas são determinadas pelos nossos financiadores. Temos a opção de cumprirmos ou deixarmos de receber financiamento, o que, num contexto em que não temos acesso aos mercados de dívida, implicaria ou uma reestruturação agressiva e/ou um défice zero já (dentro do contexto do euro, sim, mas creio que nem vale a pena discutir essa, para mim, não alternativa).

Tudo isto parece lógico. Mas a lógica, infelizmente, parece ter sido a primeira vítima da austeridade neste país. Se dúvidas fundamentadas já existiam antes da aplicação dos programas, o rotundo falhanço destes transformam essas dúvidas em certezas. O nível de austeridade aplicado sucessivamente às contas públicas tem tido um efeito risível sobre o défice mas bem sonoro sobre a actividade económica. Ora, não é por acaso que a dívida se mede em rácio com o PIB. Se provocamos recessões que, pela sua natureza, têm quase características de depressão, estamos a não resolver o problema do défice e a agravar em muito o problema da sustentabilidade da dívida.

Bom, se não funciona, porquê insistir nisto? Nem devedores, nem credores, têm interesse em que a dívida portuguesa seja cada dia mais insustentável. O problema é que a lógica não vale de muito na presença da crença. E quem acredita que o problema português (e do Sul da Europa) é uma questão moral, de insuficiência de carácter, só pode pensar que o sofrimento desnecessário não só é justo, como a única forma de nos redimirmos. Mas o verdadeiro drama não é esta ser a visão dos nossos credores. É o nosso governo - e muitas das nossas "elites" - acreditarem na mesma coisa. Ou seja, quando o país mais precisava de quem o defendesse de uma visão errada, escolhemos quem respondia "esfola" ao "mata" dos nossos credores.

"Não temos alternativa". Temos, claro. Muitas, até. A maior parte delas com mais custos do que o que estamos a fazer actualmente. Mas defender publicamente que este não pode ser o caminho, com a força dos dados a prová-lo, não devia ser assim tão difícil. O problema é que ao insistirmos em reforçar um caminho insensato, em continuar a ir como ou além de uma troika com laivos de fanatismo, só damos força a quem quer substituir a falta de senso destes com a falta de senso dos próximos.

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