É que nem na (pretensa) ironia acertou
Estive a ler o Portocarrera no Público de anteontem e, assim de repente porque o tempo é pouco, duas ou três coisitas.
«A bem dizer, não é propriamente um estudo científico porque, como se afirma logo na primeira linha, "ainda não está concluído".», escreve. Este argumento é maravilhoso, ainda por cima vindo de um doutorado. Um homem da filosofia que diz que um estudo não pode ser conclusivo relativamente a um determinado tópico porque não está acabado só pode mesmo estar a fazer uma de duas coisas, ambas graves quando se puxam dos cordelinhos académicos: a induzir propositadamente em erro as pessoas que o lêem ou a demonstrar a sua profunda ignorância. Será que o senhor nunca ouviu falar em resultados parcelares? Ou em estudos com múltiplos braços? Ou em diferentes hipóteses de investigação que não são respondidas todas ao mesmo tempo no decorrer do estudo? Isto só para deixar as questões mais óbvias.
Na verdade eu própria não entendo a minha admiração, pois se Portocarrero nem as noções básicas de estatísticas para tótós - como é o caso da representatividade do valor do "n" de uma amostra - conseguiu assimilar. Alguém lhe conte aquela história de um estudo com um "n" de 20 que era totalmente representativo da população tão apenas porque... dizia respeito à totalidade dos indivíduos que tinham a característica em estudo.
Que curioso não o ter visto falar de psicólogos a fazer política, de erros metodológicos e de faltas deontológicas noutros casos. Enfim, nem a tentativa sofrível de ironia do "gato por lebre" conseguiu concretizar.