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Ontem achei piada à forma como a RTP noticiava o relatório PISA: progressos a Matemática, "ainda assim abaixo da média da OCDE", evolução favorável a ciências, "mas ainda aquém da média". Copo meio cheio ou meio vazio, realçar o que já se percorreu ou o que ainda falta fazer. Não importa muito invocar aquele bom senso popular que diz que o que resulta é para continuar, o que fracassa é que não. Aliás, em Portugal, adotamos um estranho modelo que faz exatamente o inverso. O que é ruinoso é para prosseguir, o que funciona, altera-se.
Adiante. Se é dívida, despesismo, negócio obscuro, trica duvidosa, pimba, puxa-se lá para trás, é certamente uma herança da Sócrates-Dark Age. Como neste caso "o que foi feito" é bom e reconhecido internacionalmente (sem apelo nem agravo) e não se pode omitir - vontade não falta - bom, bem, ah!,é verdade que melhorámos qualquer coisinha, mas gastámos tanto dinheiro inutilmente (Magalhães, Parque Escolar, qualificação de professores, esses madraços) para quê, se continuamos abaixo da média? Conclusão: para quê educar um povo de burros? Burros e destinados a servir às mesas dos turistas alemães, esfregar as escadas dos senhorios do Norte e pregar botões nas fábricas. Não precisamos de doutores para isso.
À noite, o inefável Diogo Feio respondia à Catarina Martins da mesma forma honesta: ela dizia que a Suécia, esse modelo invejado de virtudes educativas, estava a cair no PISA, enquanto que Portugal tem vindo a subir. Alguém mais tapadinho suspeitaria que isso poderia significar algo de tão complexo como "significa que a experiência portuguesa tem resultado, e a sueca, fracassado" ou, pelo menos, lançar a interrogação de "que terá acontecido a Portugal para ter obtido bons resultados e à Suécia, para piores?". Mas para o nosso ilustre deputado - soberbamente coajduvado pelo Mário Crespo, esse ruído eletroestático da imprensa televisiva nacional -, a coisa resolve-se com um "tomara eu ter a Suécia, tomáramos nós estarmos ao nível da Suécia". Fica sempre bem mostrar como somos maus e como eles são bons, mesmo quando melhorámos e eles, os deuses nórdicos do país perfeito, deram um tombozito. Cada macaco no seu galho, somos bons mas é a fazer "ajustamentos". Fazia-lhe bem, sem dúvida, com ou sem câmaras de televisão, amarrá-lo a uma cadeira, amordaçar-lhe aquela bela cloaca e explicar-lhe, calmamente e durante 5 minutos sem interrupção, que a Suécia não chegou onde chegou com milagres instantâneos de N. Sra. de Fátima ou estalar de dedos.