as mãos de mandela. e as nossas
de vez em quando, muito de vez em quando, discordo do meu querido ff. hoje é uma dessas vezes.
gosto muito da capa do público, como da da new yorker (e da holandesa de de volkskrant). de todas as que vi sobre a morte de mandela, foram as minhas favoritas.
porque me emocionaram mais que as outras, porque fugiram à celebração da santidade que esteve presente em discursos tão desinformados e néscios e voluntariamente parciais (et pour cause) como o do nosso infelizmente primeiro-ministro e o nosso vergonhoso e sonso e pusilânime presidente, porque são bonitas e fortes e porque me falam de uma coragem e resistência tranquilas, de quem pode estender a mão sem pedir, porque traz nela a determinação do punho fechado. porque se atrevem a usar um símbolo que nos faz pensar em vez de optar por algo evidente e anódino, porque logram fazer um comentário, ir à procura da essência, da alma.
mandela foi grande porque estendeu a mão, diz ff. sim, foi grande porque lutou de todas as formas necessárias e adequadas para obter aquilo que sabia que era justo. foi grande porque teve a coragem de recorrer às armas depois de, como ele disse, bater 'modesta, moderadamente e em vão a uma porta trancada' durante décadas. foi grande porque, depois de preso 27 anos (preso 27 anos: repitamos isto que não somos capazes de compreender), saiu ainda de punho erguido, porque estar livre ele não significava estar livre o seu povo, estar livre o seu país. estendeu a mão quando lha estenderam, quando percebeu que a porta se abria e ele podia entrar, e que era altura de estender a mão, até de abraçar os inimigos -- porque ganhara, porque finalmente conseguira, porque podia enfim fazê-lo, porque devia fazê-lo com a magninimidade dos conquistadores, e porque de fazê-lo dependia a suprema vitória da vida em comum.
o punho de mandela na capa do público diz-me que ele foi antes de mais um lutador, um combatente, alguém capaz de ir até ao fim, de morrer por.
que tenha abraçado os seus inimigos é testemunho disso, dessa força e dessa determinação, da alegria pacificadora que advem da vitória da justiça. mostrar esse punho em vez do rosto sorridente deste homem é mostrar o que ele teve para mim de mais admirável: força, força, força. a força do bem contra o mal. porque há bem e há mal, e essa batalha não acaba nunca, e é bom que no-lo lembrem, é bom que não o esqueçamos.
precisamos daquele punho erguido, precisamos dos nossos punhos fechados, porque não acabou, nunca acaba. para chegar à paz da igualdade é preciso primeiro lutar por ela. sempre. e depois, continuar a lutar para que não volte tudo para trás. como o presente exemplarmente nos demonstra -- e como quem quer celebrar mandela como só o avô pacifista bonzinho do diálogo incessante se esforça por nos fazer esquecer.
aquele punho, ff, é política. não menos que a mão estendida, não menos que a palavra. aquele punho diz: não desisto, não desisti, não desistam. sigam o meu exemplo, lutem. we shall overcome.

