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Meninos Rabinos Picham Palermices

O governo deveria ser privatizado. Em saldo, em OPV por outro meio qualquer. Uma rifa, uma tômbola de feira, quem sabe. E os cidadãos, oprimidos pelo peso esmagador de estado (socialista, claro está), deveriam ter liberdade. Para não pagar, para não trabalhar, para não pagar impostos, para não obedecer à polícia. Ou ao governo. A qualquer coisa que pertença ao estado. A "eles". Em nome da liberdade. Devíamos pagar os impostos diretamente a um senhor poderoso que nos protegesse, a um patrão que nos pagasse. Assim é que devia ser, um grande avanço civilizacional. Como está, não, não pagamos, não respeitamos, não queremos saber, seus socialistas do caroço, vão lá impor as vossas regras estatais a quem vos fez a foice e o martelo e a quem vos pintou as caras de vermelho.

Esta é, em traços gerais, a moção que a Juventude Popular irá apresentar ao Congresso do CDS em 2015. Para já, em 2014, ficam-se por isto, ainda cheio de tiques socialistas, é verdade, mas no bom caminho e já quase expurgado dessa moléstia: "Libertar Portugal, Conquistar o Futuro". Libertar e conquistar. A libertar, apenas uma coisa; conquistar, muitas. Da primeira,  apenas o estado socialista; das outras, a economia, o emprego, a educação, a reforma do sistema político. Coisa pouca. 

Sobre a libertação, o documento denuncia como Portugal "caminhou alegremente rumo ao socialismo", ou seja, "rumo à ruína e à bancarrota". É curioso que o CDS governou o país em 1978, em 1979-83,  2002-2005 e desde 2011. Não sabe se caminhou alegremente, ou se coxeou a resmungar. Alguma coisa deve ter a ver com "a opção pelo socialismo [que] matou aos poucos a nossa Liberdade e conduziu-nos à servidão", penso eu. Mas o passado agora não importa, camaradas. O que interessa é o futuro e as "conquistas", a "luta". Em 1573, Filipe II de Castela decidiu eliminar do léxico oficial a palavra "conquista", porque dava mau aspeto. Mas os garbosos jovens populares, do Portugal de 2014, não têm medo de nada, muito menos de fazer figuras tristes. Bons exemplos que emanam de cima, certamente. Bom. 'Bora lá "conquistar o futuro" (embora eu ache que ele virá inexoravelmente, quer o queiramos ou não), 'bora lá à "verdadeira Liberdade com L maiúsculo" - já o Estado, esse mafarrico, passou a caixa baixa -, ao "futuro que não seja uma miragem mas sim uma conquista". Ora pois, uma conquista à força é que é de macho.

Primeira conquista, "na redefinição do papel do estado", leia-se, da Constituição. Muito curiosa a declaração de que "queremos uma Constituição que defenda as gerações futuras das loucuras vertidas nas decisões de quem hoje nos governa". Alguém despejou loucura nos governantes atuais. Nalguma coisa haveríamos de concordar.

Segunda conquista, "na economia". É de ficar embevecido com a hábil lucidez de pensamento que denuncia os "sucessivos governos [que] adotaram programas de índole keynesiana que apostava na expansão da procura agregada" que, já se sabe, pimba, nos levou a 2011. Felizmente que este governo chegou e, com ele, a "atração do investimento", "o visto Gold" e "o impacto positivo na oferta agregada". Aqui achei agregação a mais e passei adiante. Ah! Portugal precisa de uma "postura agressiva de atração". Aqui pensei logo em putas de esquina, depois vi que era "de investimento". Mente porca, a minha.

Blá blá coiso e tal. Chegamos finalmente, depois do emprego - só com 3 parágrafos, deve ser falta de inspiração para encher chouriços - à educação. Sim, educação, coisa que interessa aos jovens, até a estes: liberdade, liberdade, liberdade de escolher a escola e "os conteúdos programáticos" (leia-se, acabar com a pouca vergonha da educação sexual), sobretudo, mas também, de acabar com a obrigatoriedade do ensino até ao 12º. Basta o 9º. Eu cá acho que se podia ir um pouco mais longe, já em 2014, sem esperar por 2015: acabar com o ensino obrigatório, aprende a ler quem quer, oras, ainda por cima em português? Para quê, se o jovem acabará por emigrar? Não seria melhor fazer logo de início um protocolo com o país de destino, os alemães e os ingleses que pagassem a conta? E quanto aos conteúdos programáticos da escola, também me parece que deveria haver liberdade total: aprender as belas histórias da Bíblia é muito mais estimulante e menos complicado que estudar biologia e esquisitices dessas. Por fim, "a reforma do sistema político". Participação dos cidadãos e aversão aos políticos, eleições e círculos uninominais. Coisa chata. Não gostei do final. Pouco patriótico, pouco libertário, pouco conquistador. Começam com vigor e acabam com um bocejo, ó jovens populares. Em 2015, terão que fazer melhor. Não é que seja fácil, mas vão conseguir.

 

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