«Ordinariamente, todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações, e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governando ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?»
O Eça embrenhou-se tanto no ataque ao que ele percebia serem os nossos grandes defeitos colectivos (a mediocridade, a baixa moral, a venalidade) que acabou por inventar todo um capítulo de defeitos pátrios: o auto-desprezo. Não serve para nada andar hoje a fazer o enésimo eco desta profecia da desgraça. E, aliás, nem vejo porque há-de um ministro dos dias de hoje ser um "ESTADISTA". Já fico contente se nada estragar e souber dar corpo a políticas globais superiormente determinadas.
Subscrevo inteiramente o comentário do Luís Rainha. E quanto à interrogação do Eça, sim, é possível o país manter a independência. Desde o momento em que o provinciano que fazia de conta e estava convencido de que era francês, passaram já 164 anos, É possível, sr. Eça, é possível. E irreversível. O curioso é a sumidade jamais ter apontado o caminho da redenção. Assim é fácil, não é, sr. VPV?