"A modéstia do meu livro"
Apesar de ofendida pelos disparates de "um estruturalista" e de um "ressabiado social" (não é a mesma coisa?), a Drª Filomena Mónica furtou-se até agora a responder às críticas à mais recente produção do seu engenho, intitulada Cesário Verde: Um Génio Ignorado.Resolveu agora, porém, reagir no Diário de Notícias à opinião de Mega Ferreira, presumivelmente por ele não ser suspeito de estruturalismo.
A Doutora concede que não gastou muito tempo a enquadrar Cesário na sociedade do seu tempo - embora isso fosse para ela muito "fácil" - por entender que o génio do poeta não se deixa explicar por trivialidades semelhantes. E reconhece que não revelou novos documentos porque está em condições de garantir que eles não existem.
Para outra pessoa menos afoita, a carência de material ou ideias novas seria razão suficiente para se abster de perpetrar o volume. Não assim a Drª Mónica, a quem essas pequenas dificuldades não atrapalham.
Mas o que ela principalmente entende dever explicar-nos é a razão pela qual taxou Cesário Verde de "génio ignorado".
Eis o que nos diz: "É evidente que Cesário Verde não é ignorado entre as camadas cultas, mas é-o junto da população." Para ilustrar a sua tese poderia ter invocado, como já fez noutras ocasiões, o exemplo da sua mulher a dias; ou, não querendo entrar em intimidades, poderia fazer notar o quase total desconhecimento do autor de O Sentimento de um Ocidental entre os papuas da Nova Guiné.
Em vez disso, preferiu dar-nos conta de omissões culturais bem mais significativas, como as de amigos "embaixadores e presidentes de grandes empresas" que lhe confidenciaram estarem a zero em relação ao pobre Cesário.
E conclui assim: "O que parece ter passado desapercebido aos meus críticos é o carácter extremamente modesto do meu livro". O país deve, de facto, um pedido de desculpas à Drª Filomena Mónica.