Que tal referendar as 65 horas?
Surpreende-me a mansidão das reacções indígenas perante a fixação do horário máximo de trabalho europeu nas 65 horas, a tal ponto que nem sequer se vê os jornalistas a inquirirem como votou o governo português e que justificação nos dá para o sentido do seu voto.Talvez as pessoas estejam convencidas de que isto não é bem connosco. Afinal, por cá continua a valer a nossa legislação. Os outros, esses países longínquos e semi-bárbaros recém-admitidos na UE, se quiserem, que trabalhem 65 horas e que tenham muito proveito.
Mas o caso é mesmo esse. Esta decisão criou uma oportunidade de concorrência desleal que, a prazo, poderá pôr em causa a própria liberdade de comércio no interior da UE. O que é tanto mais incompreensível quanto é facto que nenhum país europeu é hoje tão pobre que a sua situação justifique horários tão alargados de trabalho.
Decisões destas inviabilizam completamente a projectada liberdade de transacção de serviços dentro da UE, porque isso significaria que uma empresa doutro país poderia trazer para cá temporariamente gente a trabalhar 65 horas por semana, em concorrência desleal com as empresas locais.
Nas últimas semanas, a propósito do referendo irlandês, descobrimos em Portugal muita gente de direita encantada com as virtudes da democracia directa.
E que tal se, aproveitando o balanço, lançássemos um movimento para referendar as 65 horas semanais de trabalho à escala europeia. Vamos a isso, Pacheco Pereira?

