Do legislador com amor #2
Nem que andasse de candeia acesa, deliberadamente à procura, conseguiria encontrar melhor sequência para o que aqui disse a propósito das prendas do legislador. O dramalhão que ontem ocorreu no Parlamento a propósito da votação do artigo 5º da lei-quadro das nacionalizações, com Afonso Candal (salvo erro) a esclarecer o que a versão original do artigo queria dizer, com Jorge Lacão a reescrever o artigo de forma que se pretendia mais clara e com o PS a recusar votar a proposta com o artigo reescrito, foi um belo exemplo de como se legisla neste pobre país. Em suma, uma norma é apresentada aos deputados para a votarem, a oposição e Manuel Alegre contestam a clareza da dita, um deputado esclarece que está clara que chegue, um secretário de Estado tenta levar a clarificação à letra da lei, o grupo parlamentar do PS recusa-se a votar a versão clarificada.
Tudo à frente das televisões, para o portuguesinho não perder pitada. Eu já não tinha grandes dúvidas de como algumas das lusas leis acabam no DR (e não é coisa só de agora), mas, tivesse havido um pouco de bom-senso, o que se exigia, e podíamos ter sido poupados ao triste espectáculo - o que vale é que o comum dos mortais não há-de ter percebido a gravidade do sucedido.