Memória
Faz hoje 6 anos. Um petroleiro que transporta 77 mil toneladas de crude é atingido por uma tempestade ao largo da Galiza. Um dos tanques rebenta. O capitão pede ajuda às autoridades espanholas, solicitando permissão para acostar e reparar os danos. Desejosas de afastar a bomba-relógio das suas costas, estas recusam. O navio segue para noroeste, igual pedido junto das autoridades francesas. Igual recusa. Em desespero, o capitão ruma a sul, mas os portugueses reagem da mesma forma. Assim se passam 4 dias.
O navio acaba por se partir em dois e por se afundar. Um derrame de mais de 60 mil toneladas, a maior catástrofe ecológica da região, uma maré negra que submerge a Galiza. As autoridades tapam o sol com a peneira. O porta-voz do governo do PP, Mariano Rajoy, diz que são "uns pequenos fiozinhos". A expressão "hilitos" é motivo de chacota e de indignação por toda a Espanha. A irresponsabilidade dos armadores, a incúria ineficaz da fiscalização internacional, o egoísmo das autoridades franco-hispano-portuguesas causa danos irreparáveis no ambiente e na economia local e custa 12 mil milhões de dólares.
Na Galiza, há uma ferida aberta e profunda, um ressentimento doloroso. "Nunca Mais" é o nome do movimento que se forma para acudir à hecatombe e mobilizar a população. Uma canção chora:
o reloxo do bar quedou varado
na costeira muda da desolación.
Non imos esquecer, nin perdoalo.
porque nós arrancamos todo o orgullo do mar,
non nos afundiremos nunca máis.
Que na túa memoria xa non hai volta atrás:
non nos humillaredes nunca máis.


