Chamando as coisas pelos nomes, falemos do chumbo
Ainda não me habituei a usar o Twitter mas hoje lembrei-me que lá tinha um endereço de conserva ("Pegar nisto um destes dias") quando, via Luis Rainha, aterrei num post de Rui Pena Pires no Canhoto em que, a propósito do tema abrangente "educação", se mostram dados curiosos sobre a taxa de retenção em várias latitudes. A discussão no espaço público em Portugal sobre os méritos e deméritos da retenção é muito recente (não o será nos meios académicos) e está completamente desvirtuada por paleios ocos sobre facilitismo e outras trampices que tais (como qualquer pessoa relativamente sensata, ainda por cima porque sou mãe de putos que frequentam a escola pública e porque me agrada uma cultura de exigência, o facilitismo na aprendizagem angustia-me mas a poluição sonora não fundamentada também não me deixa indiferente). Mas é capaz de ter chegado a hora de se olhar, com olhos de ver, para estratégias alternativas que promovam, de facto, um ensino público de qualidade e que tente perverter as desigualdades de base. É aqui que entra o Twitter, por lá tinha guardado o link para um texto do Observatoire des inégalités cujo título não permite grandes dúvidas "Le redoublement, facteur d’échec scolaire et d’inégalités".
Que desse por isso na blogosfera portuguesa há dois bloggers que têm dedicado especial atenção a esta problemática, o já referido Rui Pena Pires e o Hugo Mendes. Uma pesquisa pela palavra "retenção" em qualquer um dos blogs onde escrevem permite chegar a textos nem sempre fáceis mas que têm o inegável mérito de nos fazer reflectir seriamente sobre estas problemáticas.
Para terminar, e um pouco à laia de provocação assumida, chamo a atenção para um comentário, deixado num dos posts do Hugo, que transcrevo na sua quase integralidade "(...) Um inquérito aos alunos do 9º ano que coordenei este ano mostrava como, a cada vez que se reprova, aumentam as possibilidades de voltar a reprovar e também de ser alvo de processos disciplinares, mas decresce a motivação para estudar e o tempo diário de estudo. Ou seja, a premissa psicológica de que, ao reprovar, um aluno toma consciência da sua situação e torna-se mais dedicado à escola, apenas se aplicará num número residual de casos. Nos outros, a reprovação significa um estigma e um estímulo directo à exclusão e à indisciplina. Os resultados do inquérito mostram que, se a primeira reprovação no básico é já um cartão amarelo, a segunda marca claramente o ponto de ruptura com o sistema. Até porque a cada ano que passa, a pressão para começar a ganhar dinheiro aumenta, sobretudo nas classes desfavorecidas, onde a retenção tem maior incidência. Apesar de tudo isso, as retenções irão continuar enquanto se conservar a ficção colectiva de que esse é o (último) bastião da autoridade e do prestígio docentes." (bold provocatório meu)

