Cavaco e o BPN
Foi com espanto que, no passado fim-de-semana, pude ler o comunicado da Presidência da República sobre o caso BPN. Como a generalidade dos comentadores logo apontou, o comunicado é um perfeito despropósito. Ninguém, no seu perfeito juízo, se lembraria de apontar o dedo a Cavaco Silva - o homem terá alguns defeitos (não sabe comer bolo-rei, por exemplo), mas está acima de toda a suspeita.
No país onde não há fumo sem fogo, Cavaco Silva veio levantar uma lebre que estava muito bem na moita de onde foi enxotada. Deu explicações sobre a sua vida pessoal que não tinha que dar, meteu-se num assunto em relação ao qual, pelo menos publicamente, tinha o dever de se manter alheio.
O pretexto, então, é completamente ridiculo: "Nos últimos dias, detectou a Presidência da República, face a contactos estabelecidos por jornalistas, tentativas de associar o nome do Presidente da República à situação do Banco Português de Negócios (BPN).
Não podendo o Presidente da República tolerar a continuação de mentiras e insinuações visando pôr em causa o seu bom nome, esclarece-se o seguinte: (...)"
Mas agora o Presidente da República organiza a sua agenda política de acordo com o que corre nos mentideros? Ou bastará um jornalista atirar o barro à parede que temos logo o presidente a lançar desmentidos? Tentativas de o associar à situação do BPN? Mas quem, quando, onde, como?
Uma última nota para referir que também as declarações de hoje pecam por pouco avisadas - mais uma vez o Presidente devia ter-se limitado a ficar calado.